dezembro 30, 2012

"O brasileiro é um português à solta"


O Governo brasileiro decidiu prolongar em mais 3 anos o período de transição da implementação do AO, o que significa que o termo do período de transição passa de 31 de dezembro de 2012 para o final de 2015

O prolongamento do período de transição do AO no Brasil é irracional dado que a implementação do AO no país já está concluída; especial destaque para a adoção do AO em todos os níveis do poder político brasileiro, em todos os órgãos de comunicação social e em todos os graus do sistema de ensino.

O decreto que adiou a obrigatoriedade veio, portanto, mudar pouco a realidade.  Porquê, então, a decisão de alterar de 2012 para 2015 o final do período transição? Tudo indica que o Governo brasileiro preferiu satisfazer a sede de protagonismo de dois senadores e de um filólogo em lugar de atender à opinião de quem trabalha, de quem conhece a realidade.

No Brasil, como em Portugal, entre o interesse comum e a fulanização opta-se demasiadas vezes pela fulanização, entre atender à opinião de quem conhece a realidade ou à opinião de quem busca protagonismos, opta-se demasiadas vezes pela opinião de quem busca protagonismos.
Com isto, o Governo brasileiro parece ter vindo dar razão a Agostinho da Silva quando um dia escreveu “o brasileiro é um português à solta"


Entretanto, e como seria de esperar, o único efeito prático da decisão brasileira de dilatar o período de transição da aplicação do AO não aconteceu no Brasil mas sim em Portugal, como se constata pelo ressurgir entre nós de quem dá voz ao lado mais negro da alma portuguesa; assim, Vasco Graça Moura voltou a alardear dislates na tentativa de tirar proveito da aparente indecisão brasileira, fazendo um apelo ao "tempo-volta-pra-trás", e pedindo o regresso ao ghetto ortográfico saudosista do Portugal do Minho a Timor.


Sobre o tema, ler no Ciberdúvidas "Sobre a Notícia da Morte do AO no Brasil"

dezembro 27, 2012

dezembro 06, 2012

"Acordem, Tolos"

"Se eu fosse falacioso e desonesto como o Pacheco [opositor confesso do AO90 e subdiretor do jornal Público] e o grupo de cidadãos que o controla, poderia dizer que o colossal número de falhas ortográficas no Público prova claramente que manter a ortografia antiga instiga ao erro grosseiro. Mas não sou. Ignorância e insuficiente domínio da língua são, infelizmente, o nosso padrão nacional. Por isso é tão ridículo ver quase analfabetos indignados porque lhes tiraram, aqui ou ali, um "c" que eles nem desconfiavam que existia."

Trecho do post "Acordem, tolos", de Artur Costa, n"O Línguado", a respeito do tratamento miserável a que a Língua Portuguesa está sujeita no jornal que promove a campanha difamatória conrtra o AO em Portugal.




outubro 18, 2012

A Babbel e o pedido de um leitor


Um dos nossos fans vinha pedindo (através de três comentários não publicados e de dois emails) que nos posicionássemos face à opção da Babbel de promover cursos online de ensino da variante brasileira da nossa Língua. Segundo o ele, como se não bastasse esta “afronta”, a Babbel usa também a bandeira do Brasil como logo da opção pela Língua Portuguesa.

O conteúdo dos emails e dos comentários recebidos era ofensivo e baixo – efeitos do racismo e xenofobia subjacentes às opiniões contrárias ao AO em Portugal  – pelo que lhe respondemos que aceitaríamos o repto se o pedido fosse feito sem linguajar de troll. E não é que resultou?:








Vamos então cumprir a nossa parte do acordo:


A Babbel desenvolve software para o ensino em linha de Línguas, e no caso do Português optou pela variante brasileira da nossa Língua. Segue-se a nossa posição sobre o assunto.


1.A racionalidade da opção da Babbel

1.1 A decisão de investimento na produção de software para o ensino de uma Língua está ligada à rentabilidade que advém da procura. Tratando-se de Línguas internacionais, a Babbel opta pela variante em que deteta maior procura, o que, tendencialmente, corresponde à variante linguística que tem mais falantes e/ou maior projeção.

1.2. É de supor que seja por essa razão que, a Babbel (ainda) não ensina húngaro, nem checo, nem holandês da Flandres, nem Catalão, nem Alemão da Baviera. É de supor que também seja por essa razão que a Babbel ensina Alemão (na variante do Norte), Holandês (na variante do eixo Roterdão-Amsterdão), assim como ensina Indonésio, este sem variantes internacionais mas falado por 200 milhões de pessoas.

1.3. Pela conjugação dos dois aspetos acima – principal variante internacional e peso demográfico – a Babbel optou pelo ensino da variante brasileira da nossa Língua. Esta decisão não incomoda quem encara o Português como um grande idioma internacional que para merecer esse estatuto tem de rejeitar visões de ghetto ou de apartheid linguísticos.


2. O Brasil, a Língua Portuguesa, e a palavra “Português” associada a logos com a bandeira do Brasil

2.1. Sabemos que a projeção internacional que atualmente o Português tem se deve exclusivamente a ser uma Língua falada em oito países, em quatro continentes e, mais relevante ainda, ao facto de o Português ser a Língua do Brasil.

2.2. Ver a palavra “Português” associada a um logo com a bandeira de um dos maiores e mais importantes países do mundo só pode constituir para nós, portugueses, motivo de orgulho e satisfação. Quem assim não entende sofre de uma enfermidade mental geralmente conhecida por “nacionalismo acéfalo-histérico”.

2.3. É comum encontrar a palavra “English” sob o logo da bandeira americana, e até a palavra “Español” titulando logos com a bandeira mexicana. Não consta que ingleses ou espanhóis se sintam ofendidos ou ultrajados ou menorizados. Pelo contrário, é de supor que entendam esta opção como uma valorização da dimensão e projeção internacionais dos respetivos idiomas.

2.4. O Português não é propriedade de Portugal; nós, portugueses, somos apenas um dos coproprietários da terceira Língua ocidental mais falada no mundo, facto que implica, como em tudo o que se partilha, benefícios e cedências.


Esperamos ter satisfeito o nosso fan. Volte sempre, e não são precisas vénias nem flores nos emails, embora as notas musicais tenham sido apreciadas; basta apenas que faça um esforço para não ser grosseiro e terá os seus comentários publicados. Se puser de lado o rancor e o ódio, e se continuar a praticar a delicadeza e a cordialidade, um destes dias vai dar por si escrever, feliz, segundo as regras ortográficas em vigor. Isso de escrever em ortografia antiga é coisa de quem está de mal com a vida.

outubro 11, 2012

Serão estes os tais efeitos benéficos da ortografia etimológica clássica no desenvolvimento cultural e intelectual dos povos?

É possível que você já tenha lido ou ouvido algo sobre as supostas vantagens culturais e intelectuais que resultam da emprego de ortografias etimológicas clássicas (francês e inglês) na escolarização.

Vamos ver uma aplicação desta teoria.
Um conjunto de 100 franceses que se julgam habilitados a participar num concurso de cultura geral, tem de responder à pergunta "o que é que orbita em torno da Terra"; para os ajudar, são-lhes apresentadas quatro hipóteses de resposta, sendo que uma está correta.



Fica sempre a hipótese de que se estes adultos não tivessem sido obrigados em criança a decorar coisas como “orthographe” ou “different” talvez lhes tivesse sobrado tempo e recursos para saberem hoje o que é a Lua que gira em torno da Terra, e não o Sol..

Como foi que o Público chegou a isto?

A Sonaecom anunciou uma reestruturação no Público; destaque para o trecho seguinte do cumunicado divulgado no Público:
Com o imperativo de assegurar a sustentabilidade, sem comprometer o seu papel como referência independente de informação em Portugal, o PÚBLICO irá levar a cabo um projeto de reestruturação.
Este plano consistirá no reforço e adequação de competências, onde se inclui a maior orientação para as crescentes exigências do mundo digital, e na redução da estrutura de custos em cerca de 3,5 milhões de euros por ano, com a diminuição de custos de funcionamento e previsível saída de 48 colaboradores.

Como foi que o Público chegou a isto?

Chegou a isto, por exemplo, assim:
“As mesmas virgens jornalísticas que se horrorizaram com as facilidades concedidas a Miguel Relvas na obtenção da sua licenciatura convivem bem com um artigo de duas páginas que faz a apologia do facilitismo no ensino superior.”

Mas também chegou a isto porque, por exemplo, as mesmas virgens jornalísticas que promovem uma campanha difamatória contra o AO90 a que chamam “Debate” ficaram indignadas quando alguém lhes disse que "o ódio de Nuno Pacheco [subdiretor]ao AO90 é tão grande que o impediu de ver que a sua espanhola não tem as bases de conhecimento mínimas para publicar opiniões sobre ortografia da sua Língua numa folha paroquial domingueira, muito menos para publicar opiniões sobre a Língua de outros num jornal nacional."


Mas há mais. Significativamente, o comunicado do acionista está redigido e foi publicado no Público em ortografia atualizada, em claro contraponto com a linha editorial estabelecida pela maioria da Direção que impõe ao jornal e aos jornalistas o uso de ortografia antiga.

Este facto constitui uma forma implícita de o acionista evidenciar porque motivo a atual Direção foi incapaz de manter o Público como jornal de referência; na verdade, tal como nas questões políticas, também na questão ortográfica o Público foi transformado num pasquim dedicado à divulgação e promoção da mundovisão obtusa e das questiúnculas facciosas de uns poucos.

outubro 04, 2012

Rui M.V.Duarte: das falácias à contumácia

Rui Duarte volta a ter um lugar na campanha de difamação do AO promovida pelo subdiretor do Público, e a ocasião foi aproveitada para responder a este post do em Português Grande. Teria ficado bem a Rui Duarte a frontalidade de Nuno Pacheco que, preto no branco, disse ao que vinha e porquê quando respondeu a um post nosso através de um artigo do Público com o título “Então não é que me arranjaram uma espanhola?

Rui Duarte insiste na falácia etimológica, mas desta vez ele não cai na “asneira” de escrever que não sabe "como pôr um aluno da escola básica e secundária portuguesa a relacionar ação (ainda vá, tem um "c"), agente, agir, com ator? Ou atividade? Sem "c" nem "g"?" Não. Rui Duarte percebeu a irracionalidade do argumento, como aqui expusemos, o tal argumento que “não vale um caracol” como advertiu António Emiliano dirigindo-se aos opositores ao AO que insistem na falácia etimológica.

Em lugar disso, desta vez Rui Duarte puxa (mas pouco) pelo peso emotivo da etimologia muda numa ortografia simplificada, uma espécie de tentativa de chamar metal precioso a pechisbeque, tanto mais que as consoantes mudas eliminadas pelo AO90 foram mantidas na ortografia de 1911 por suposto valor fonético e não por razões etimológicas.
Portanto, Rui Duarte rapidamente deixa para trás a falácia etimológica e prefere aninhar-se na falácia das consoantes mudas diacríticas aproximando-se da argumentação de António Emiliano e usando expressamente como referencial a reforma ortográfica de 1945.

Como não há argumentação anti AO sem recurso a uma ou mais omissões, Rui Duarte omite as alterações à ortografia trazidas pelo Acordo Ortográfico de 1971 com o Brasil. Em consequência deste Acordo, decretado em Portugal dois anos depois da sua assinatura, o Português ficou um pouco mais fonológico. A pegada fonológica da ortografia portuguesa posterior a 1973 é, por si só, facto bastante para desmontar a falácia das consoantes mudas diacríticas.

Concretizando; se Rui Duarte acha que em Portugal se deixará de pronunciar corretamente “afetar” ou “teto” porque deixámos de escrever “afectar” ou “tecto”, então como justifica ele que pronunciemos “pregar”, “cerco”, “acordo” ou “somente”, tal e qual como se pronunciava há quarenta anos quando se escrevia “prègar”, “cêrco”,  “acôrdo” ou “sòmente”?. Genericamente: é razoável supor que a perda de consoantes mudas vá fazer agora às pronúncias portuguesas aquilo que a perda de acentos diacríticos não fez em quarenta anos?

E esta é a altura de pedir a Rui Duarte para não ter medo, como pedimos ao nosso Pedro Afonso, e aproveitar para lhe sugerir que faça o exercício que propusemos ao Pedro Afonso quando o mandámos estudar e que tanto o ajudou na compreensão do problema:
“Nas palavras seguintes, assinala as que têm pré tónica fechada, as que têm pré tónica aberta, e diz a importância que tem uma consoante muda para indicar a pronúncia correta em todas elas: bebé, actuar, caveira, vexame, especado, exactidão, tactear, pateta, dilação”.

Acreditamos que Rui Duarte compreende as falácias filológicas em que incorre, que compreende que não pode tentar demonstrar o valor de uma opinião omitindo factos que demonstram a sua falsidade, ou fazendo como um cura dos antigos que demonstrava que o Sol andava à volta da Terra recorrendo aos testemunhos dos seus fregueses, como Rui Duarte faz quando relata no seu artigo as respostas que uns amigos lhe deram. É, pois, de esperar que continue a recorrer às falácias filológicas e à negação da realidade no seu percurso de opositor ao AO90.

Só resta declarar Rui Duarte contumaz, mas apenas até ao dia em que ele abandonar as falácias filológicas e passar à argumentação ideológica contra o AO90, aquela que, de facto, tem discussão possível.

setembro 26, 2012

Nuno Pacheco: um desmentido, muitos equívocos, lógicas de “acampada” e um agradecimento

Primeiro, o desmentidoo subdiretor do Público, Nuno Pacheco, diz que não arranjou uma espanhola.


Desfeito o boato, vêm os equívocos, as confusões.

O subdiretor do Público refere que há filólogos, escritores, jornalistas, políticos, etc que estão contra o AO90, logo, o AO90 é “mau”. Mas omite de que há filólogos, escritores, jornalistas, políticos, etc que estão a favor do AO90, o que, pelo mesmo critério, faz do AO90 “bom”. Não deve um jornalista e um jornal referir todas as perspetivas e opiniões com profissionalismo, transparência e isenção (a tal "ética jornalística") e deixar ao critério dos seus leitores as conclusões sobre um determinado tema, qualquer tema, todos os temas, incluindo o AO90?

O subdiretor do Público inclui António Emiliano e Rui Ventura Duarte nos especialistas que se opõem ao AO; mas omite que um deles acha que os argumentos do outro sobre o tema não valem um caracol e, de facto, tem toda a razão.

O subdiretor do Público acha que por fomos delegantes porque escrevemos que Eça falava em espanholas mas não as punha a falar. No entanto, ele não acha deselegante permitir que uma espanhola use o Público para pedir para a nossa Língua o que não quer para a Língua dela; não acha deselegante que uma espanhola, que se auto reconhece incompetente no tema, use o Público para deturpar factos sobre o AO e até sobre a sua própria Língua; não acha deselegante que o Público promova uma campanha de difamação do AO a que chama “debate” para que apenas convida quem tem opinião desfavorável.
Conclusão: o subdiretor do Público está para as lições de elegância sobre "espanholas" como o hipopótamo para as lições de elegância sobre "como comer de boca fechada".

O subdiretor do Público relembra que 87 delegações internacionais do PEN se mostraram recentemente desfavoráveis ao AO90; mas omitiu que, obviamente, se equivocaram porque sugeriram como bons exemplos de respeito pela diversidade linguística - que devem ser seguidos pela Língua Portuguesa - precisamente duas Línguas internacionais com ortografia uniformizada; ver: O PEN Internacional sugere que a Língua portuguesa deve retomar o anteriorestatuto de inferioridade face às outras Línguas internacionais recuando na aplicação do AO90.

O subdiretor do Público acha que depois do AO cada um escreve como quer. Mas isto não é verdade porque as facultatividades trazidas pelo AO estão inequivocamente delimitadas, e nada têm a ver com os exemplos publicados. Acresce que, antes como depois do AO90, já existiam vocábulos que se grafavam de forma diferente em função da pronúncia. Sugestão: para evitar esta e outras confusões e mentiras sobre AO, ver: "Falácias frequentes sobre o AO90", ponto 4.

O subdiretor do Público inclui entre os "especialistas” que estão contra o AO90 o nosso Pedro Afonso, dirigente da AEIST. Mas é preciso ver melhor se é assim porque o Pedro Afonso foi estudar, e por esta altura ele é bem capaz de já ter percebido que afinal andavam a enganá-lo, a meter-lhe medo; quem quiser perceber porquê, pode ler: NãoTenhas Medo, Pedro.

O subdiretor do Público acha que a vontade da maioria dos membros da AEIST está para a vontade dos "estudantes do Técnico" como a assembleia "popular" do Rossio para a vontade dos habitantes deste país. Nada de surpreendente, já se tinha percebido que a oposição ao AO em Portugal se faz com lógicas de “acampada”.

O subdiretor do Público acha que o AO90 é "mau" porque 6 (seis) palavras que antes tinham ortografia idêntica em Portugal e no Brasil agora que se escrevem de forma diferente. Mas omite o facto de cerca de 10,000 palavras que antes tinham ortografia diferente em Portugal e no Brasil agora se escrevem de forma idêntica. Uma vez mais, a “lógica da acampada” para demonstrar a existência de maldades imaginadas.


Expostas as confusões, segue-se um agradecimento: no domingo e na 2af o Sitemeter indicou um aumento anormal de visitas ao blog vindas do Google sob a pesquisa “Em Português Grande”. Confesso que só ontem percebemos porquê. Pois aqui fica o mais que merecido agradecimento ao Público, e muito em particular ao seu subdiretor, que me parece justo que tratemos por amigo, por esta oportunidade (particularmente deliciosa) de dar a conhecer a muitos uma visão maior da nossa Língua. Em retribuição, oferecemos-lhe uma musiquinha, e em espanhol.


setembro 24, 2012

“ATIV”; a SAMSUNG aderiu às vantagens fonéticas e gráficas da Língua Portuguesa





A ideia foi procurar uma designação que indiciasse as qualidades que o fabricante associa à gama: simples, poderoso, belo. Por alguma (boa) razão, os responsáveis de marketing perceberam que “ATIV” é melhor que “ACTIV”.

Em jeito de graça, pode bem dizer-se que a SAMSUNG descobriu agora o que a Língua portuguesa descobriu há séculos; de facto uma das principais caraterísticas evolutivas e identitárias do Português é a rejeição das sequências consonânticas.
Exemplos: respectare>respeitar,  septimo>sétimo, damnu>dano, signale>sinal, contractu>contrato, activus>ativo.

Parece que na SAMSUNG também há quem goste do AO90 e do Português.


setembro 20, 2012

Visão: Regras do Acordo Ortográfico - vol.2





Visão desta semana oferece o segundo de dois volumes de um manual explicativo do Acordo Ortográfico.




Índice do 2º volume:
- Trocado por miúdos [exemplos de aplicação]
- Agora sem ajuda [exercícios]
- História da ortografia
- Polémica


setembro 19, 2012

O PEN Internacional sugere que a Língua portuguesa deve retomar o anterior estatuto de inferioridade face às outras Línguas internacionais recuando na aplicação do AO90

O Centro português do PEN Internacional pediu e viu aprovado no 78º congresso do PEN Internacional um parecer negativo sobre o AO90.

Nos termos desse parecer:

- O PEN Internacional concorda com os representantes portugueses quanto à rejeição da estandardização ortográfica na Língua Portuguesa; entretanto, nenhum representante de países que usam outras Línguas internacionais com ortografia uniformizada – Francês, Holandês, Alemão, Árabe e Espanhol – se queixaram da existência de malefícios advenientes da estandardização das respetivas ortografias.

- O PEN Internacional considera que a estandardização ortográfica limita a criatividade e a diversidade na Língua Portuguesa; a "prová-lo" deu como bons exemplos de respeito pela criatividade e diversidade precisamente duas Línguas internacionais com ortografia estandardizada: o Francês e o Espanhol, como se pode ler nos dois trechos seguintes extraídos da tradução divulgada pelo Centro português::
"A força motriz da língua francesa hoje em dia, com origem em todas as suas bases pelo mundo fora, é de tender para uma inclusão das diferenças na língua. O resultado é a possibilidade crescente de uma atmosfera nova e muito positiva em torno do Francês, por exemplo em África."
"São precisamente as diferenças locais, nacionais e hemisféricas dentro da língua espanhola que lhe conferem uma força crescente. As diferenças nutrem-se mutuamente. A criação do Dicionário da Real Academia Espanhola, em cooperação com as Academias de língua espanhola em todo o mundo, tinha como objectivo incluir todas essas diferenças." 
- O PEN Internacional desaprova que em Portugal a ortografia esteja a ser imposta através do Estado; mas nada refere quanto ao facto de todos os Estados imporem a norma ortografia pelas mesmíssimas vias administrativas.

- O PEN Internacional lamenta que as empresas exijam que os tradutores escrevam sem erros ortográficos, isto é, segundo a norma ortográfica vigente; mas não parece mal ao PEN que se passe o mesmo em qualquer outro país, sob pena de serem os utentes da Língua a queixarem-se dos tradutores e das empresas que os contratam.

- O PEN Internacional queixa-se da suposta obrigatoriedade do uso de ortografia atualizada pelos escritores; mas omitiu o facto de não existir qualquer escritor que alguma vez tenha sido impedido de publicar usando a ortografia antiga.


Infelizmente, o PEN Internacional atendeu apenas à opinião que foi aprovada pela maioria dos associados do Centro português Foi pena, porque, por exemplo, talvez a consideração da opinião de escritores como Alice Vieira, Lídia Jorge, Mia Couto, ou José Eduardo Agualiua tivesse impedido o PEN de aprovar um parecer que pede para a Língua Portuguesa um estatuto de inferioridade face àquele que atribui a outras Línguas internacionais.


Leituras complementares:

setembro 14, 2012

"sou português, cidadão da língua. sigo o acordo ortográfico"

Aqui fica a segunda descoberta tardia mas preciosa (a anterior foi esta).

Deliciem-se.
sou português, cidadão da Língua. sigo o Acordo Ortográfico.
as duas únicas boas razões para se ser contra a nova ortografia da Língua Portuguesa são a ignorância e a preguiça. todas as outras são piores.
hoje até concordo com aqueles que andam para aí a dizer que o grande Fernando Pessoa nunca concordaria com a nova ortografia. e têm toda a razão. o Fernando Pessoa não concordaria. era um aristocrata, levemente monarchico. vejam lá que nem sequer concordou com a ortografia de 1911, que eles tanto defendem. é que ele defendia a ortographia archaica. ponto final. paragrapho.
esqueça-se o chauvinismo, a xenofobia e o colonialismo recesso e arrogante, e a importância da nova ortografia impõe-se por si mesma. na verdade, a força do graçamourismo não está na sua argumentação patética e pseudolinguística, mas na habilidade com que explora o lado mais negro da alma portuguesa.
vi há dias um desses textos muito criativos dos graçamouristas. dizia ele que nós, os adeptos e seguidores da nova ortografia, usamos um Português amputado. usamos, sim senhor, amputado dos pontos negros, verrugas, cravos e tumores ortográficos que o desfeavam e complicavam a leitura da escrita. ainda bem que os amputámos.

Este texto é de José Cunha-Oliveira, e foi publicado aqui a 16 junho 2011.
Sugere-se vivamente a leitura das entradas seguintes do mesmo autor disponíveis no link; a acompanhar.

A transcrição respeitou a opção do uso de maiúsculas do original.

setembro 13, 2012

Visão: Regras do Acordo Ortográfico - vol.1




Visão desta semana oferece o primeiro de dois volumes de um manual explicativo do Acordo Ortográfico. Trata-se de uma versão "revista e ampliada" de uma edição anterior.




Este 1º volume expõe as seguintes mudanças ortográficas:
- Alfabeto
- Minúsculas
- Maiúsculas e minúsculas
- Consoantes mudas e duplas grafias
- Acentuação
- O uso do hífen
- Minidicionário da Mudança

setembro 09, 2012

A espanhola do "Público" está contra o AO90 mas não está contra a "Nueva Ortografía" de 2010

Uma espanhola, de nome Rocio Ramos, foi a mais recente convidada do subdiretor do 'Público", Nuno Pacheco,  para emitir opiniões difamatórias sobre o AO90, perante o incómodo cada vez menos mudo de responsáveis e jornalistas daquele diário.

Esta espanhola de Nuno Pacheco manifesta irritação pela uniformização da ortografia da Língua Portuguesa, emite opiniões técnicas sobre o AO90 (apesar de se reconhecer incompetente para o efeito), deturpa grosseiramente o âmbito e o propósito do AO90, e pretende o Português equiparado às Línguas menorizadas do Estado espanhol (galego, basco, catalão e valenciano).

Mais ainda, a espanhola de Nuno Pacheco acha que o Português devia ser como o Espanhol porque em Espanhol (1) são aceites várias normas ortográficas e, (2) é a “RAE [Real Academia Espanhola de Letras] quem dita as normas, uma vez que é a Espanha o país do qual a Língua é originária.”.

Ora, se a espanhola de Nuno Pacheco - e o próprio Nuno Pacheco - se tivessem dado ao trabalho de consultar os sítios da RAE e da  ASALE, teriam lido o seguinte:
La política lingüística panhispánica
En los últimos años [após 1999], la Real Academia Española y las veintiuna [21] Academias de América y Filipinas que con ella integran la Asociación de Academias de la Lengua Española vienen desarrollando una política lingüística que implica la colaboración de todas ellas, en pie de igualdad y como ejercicio de una responsabilidad común, en las obras que sustentan y deben expresar la unidad de nuestro idioma en su rica variedad: el Diccionario, la Gramática y la Ortografía. Continuar a ler aqui 

Portanto, e ao contrário do que divulga o Público, o Espanhol tem uma ortografia unificada apesar da grande diversidade fonética e de léxico, e a Real Academia Espanholda de Letras não tem supremacia sobre a emissão de documentos normativos da Língua.

E se alguém no Público gastasse menos tempo a odiar a internacionalidade da Língua Portuguesa e investigasse mais sobre a unidade na diversidade de outras Línguas internacionais como, por exemplo, o Espanhol, saberia que em 2010 foi publicada a nova Ortografía que, malgrado o nome, constitui uma reforma ortográfica com mais novidades e alterações do que as introduzidas pelo AO90.

E assim, sem mais, para a espanhola do Nuno Pacheco e outros opositores ao AO90, o “exemplo espanhol” passa, num ápice, de “bom” a “mau”.

O ódio cega, e o ódio de Nuno Pacheco ao AO90 é tão grande que o impediu de ver que a sua espanhola não tem as bases de conhecimento mínimas para publicar opiniões sobre ortografia da sua Língua numa folha paroquial domingueira, muito menos para publicar opiniões sobre a Língua de outros num jornal nacional. A respeito de espanholas, o Nuno Pacheco deveria fazer como o Eça: falava nelas, mas não as punha a falar.


Mas nem tudo é mau, porque a espanhola Rocio do Publico declara-se amante da Língua Portuguesa, pelo que o seu amor ao Português pode ser canalizado para nobres fins.

Assim, a espanhola Rocio do Público poderia associar-se à Além Guadiana no esforço desigual que esta associação oliventina desenvolve para reabilitar a cultura e Língua portuguesas em Olivença, ambas à beira da extinção ao fim de 200 anos de linguicídio perpetrado pelo estado espanhol naquele território ocupado.

A espanhola Rocio do Público poderia também associar-se à Academia Galega da Língua Portuguesa na obra de promoção da reintegração do Galego-Português na dimensão internacional da Língua, única forma de reverter o processo de descaraterização e implosão da variante mais antiga do Português, submetida oficialmente à ortografia castelhana.

Como é evidente, estas associações adotaram o AO90 porque a permanência do Português oliventino e do Galego como ghettos linguísticos foi e é um fator de anulação e inutilidade, logo, de extinção.


Finalmente - e já que a espanhola Rocio do Público acha que os portugueses devem preferir o separatismo linguístico à unidade, a etimologia clássica à simplificada - sugere-se que ela vá para o seu país defender o mesmo para a sua Língua, isto é, que peça a consagração de ortografias diferenciadas em cada um dos países espano-falantes, e que proponha que em Espanhol se passe a escrever “objecto” em vez de “objeto”, "occulto" em vez de "oculto", “quanto” em vez de “cuanto”.

agosto 30, 2012

Prossegue a Atualização Ortográfica dos Livros Escolares

O plano de atualização ortográfica dos livros escolares, atualmente em curso, terminará no ano letivo de 2014/15, disse à agência Lusa o secretário-geral da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), Miguel Freitas da Costa. 
 "O plano acordado em 2010 com o Ministério da Educação está a ser cumprido dentro dos prazos", garantiu, numa referência ao acordo negociado entre os editores e o MEC, segundo o qual os manuais escolares vão sendo atualizados ortograficamente até ao ano letivo de 2014/15, permitindo a coexistência das duas grafias.
Fonte: RTP

agosto 26, 2012

Não Tenhas Medo, Pedro


O Pedro Afonso, membro da Associação de Estudantes do IST, também teve um lugar na campanha de difamação antiAO90 que o Publico tem vindo a promover. Vai daí, o Publico publicou na 6af passada um artigo assinado pelo Pedro Afonso. Nele, o Pedro Afonso enuncia os muitos medos tem sobre o AO90.


O Pedro é um jovem, e estou certo que aceitará bem o tom pessoal e o tratamento  por “tu” que uso neste post que lhe dirijo.


Pedro, tu começas por ter medo do Acordo Ortográfico porque ele é uma medida "prepotente e antidemocrática" (sic) fixada por via legal. No entanto, não tens preocupações dessa natureza quando à ortografia que usas e que queres continuar a usar e que foi fixada por via legal em 1911 e atualizada também por via legal em 1945 e 1973, em todos os casos em momentos históricos em que as eleições eram uma farsa. Então, se não tens problema em usar e manter uma norma ortográfica fixada em ambientes políticos pouco ou nada democráticos, porque hás de ter medo de uma atualização fixada e implementada em legislaturas democráticas? Não tenhas medo, Pedro.


Pedro, tu achas que o AO90 vai fracassar porque falha o propósito de unificar o “vocabulário” (sic) e a sintaxe. Mas tens de ir ler melhor o AO90, Pedro, porque o propósito do AO90 é a uniformização da ortografia, e não do léxico nem da sintaxe. E também não deves ter dúvidas sobre a exequibilidade do propósito, basta lembrares-te que, por exemplo, o Espanhol e o Árabe têm sintaxes e léxicos mais diversificados que o Português e, no entanto, todos os países que os usam oficialmente se empenham em manter uma norma ortográfica única. Em que é que nós, portugueses e brasileiros, somos inferiores a marroquinos ou iemenitas, a espanhóis ou argentinos? Não tenhas medo, Pedro.


Pedro, tu tens medo de que portugueses deixem de perceber que os egípcios são naturais do Egito uma vez que Egito já não se escrever com ‘p’ mudo. Mas lembra-te que os portugueses já hoje percebem de onde são os vimaranenses e os cipriotas, e que estas discrepâncias dos gentílicos são raras mas aceitáveis em Português. Não tenhas medo, Pedro.


Pedro, tu AINDA (!!!) acreditas que dizíamos “recepção” com a pré tónica aberta porque estava lá um ‘p’ mudo para indicar a pronúncia correta. Mas tu não podes escrever coisas destas, Pedro, porque nos deixas com dúvidas sobre os teus hábitos de leitura, ou pelo menos sobre a atenção com que o fazes. Repara que, em Português, existem muitas palavras que têm pré tónica aberta sem o “auxílio” de uma muda, e muitas outras que têm pré tónica fechada apesar do “auxílio” de uma muda.  

E para te ajudar a ultrapassar a "Falácia das Mudas Diacríticas", aqui fica um exercício para resolveres: “Nas palavras seguintes, assinala as que têm pré tónica fechada, as que têm pré tónica aberta, e diz a importância que tem uma consoante muda para indicar a pronúncia correta em todas elas: bebé, actuar, caveira, vexame, especado, exactidão, tactear, pateta, dilação”.

Como vês, consoantes mudas não abrem (nem nunca abriram) vogais pré tónicas. Não tenhas medo, Pedro.


Pedro, tu tens medo das novas facultatividades consagradas no Português pelo AO90. Mas as facultatividades existiam, existem e existirão enquanto o Português for uma Língua viva, ficando ao critério dos falantes determinar, com o tempo, as formas que se mantêm e as que passam a obsoletas. O Latim não tem recebido facultatividades, porque está morto, mas o Português recebe, porque está vivo. Não tenhas medo, Pedro.


Pedro, tu tens medo das potenciais perdas económicas com a mudança de ortografia. Mas não tens razões para ter medo de tais coisas. Em primeiro lugar, o AO90 não constituiu uma rotura com a norma ortográfica anterior, pelo que não foi, como não é, ao contrário do que escreveste, necessário substituir livros nem reverter documentos para a ortografia atual. No que respeita a manuais escolares, eles têm vindo a ser substituídos ao ritmo normal, e foi até para atender à sua validade se estipulou um prazo de seis anos para o período de transição.

O teu medo das perdas económicas levou-te até a pensar que o AO90 pode prejudicar as exportações de edições portuguesas para o Brasil. Mas há boas notícias que te vão deixar feliz, porque está a acontecer precisamente o contrário daquilo que temias, como podes ver aqui: o AO90: da inutilidade à utilidade. Não tenhas medo, Pedro.


Pedro, tu tens medo que o AO90 tenha efeitos perniciosos sobre a pronúncia das gerações futuras. Oh Pedro, mais isso não pode ser, um homem novo com preconceitos de gente velha! A respeito dos vindouros, não te metas no que não te diz respeito. Nenhum de nós tem o direito de querer determinar as escolhas das gerações futuras, muito menos como irão pronunciar o que quer que seja. O futuro pertence a quem nele viver. A única obrigação que temos para com os mais novos é educá-los no sentido da responsabilidade e do desenvolvimento das suas capacidades intelectuais e outras. E, já agora, não lhes deixar dívidas, ao contrário do que fizeram as duas ou três gerações anteriores à tua.


E concluo com um apelo: Pedro, tu desfaz-te de preconceitos xenófobos antibrasileiros e da influência nefasta do lobby dos maus tradutores. Pensa pela tua própria cabeça, não enfies o barrete dos malsãos. Empenha-te em viver no teu tempo, não vivas agarrado ao passado, nem sequer o ortográfico. Faz justiça à tua idade, não queiras ser um homem novo com cabeça de velho. Alarga a tua visão do mundo, recusa os ghettos, linguísticos ou outros. 

E estuda, rapaz, porque se tivesses estudado, não te tinham enganado.

agosto 18, 2012

As Falácias Etimológicas de Rui Miguel Ventura Duarte

Em artigo de opinião publicado no Público de ontem, Rui Miguel Ventura Duarte, um opositor ao AO90, defende que a Língua Portuguesa vive bem sem as consoantes mudas etimológicas eliminadas unilateralmente em Portugal através da Reforma Ortográfica de 1911 (RO1911); em contrapartida, ele tem a certeza que os resquícios etimológicos mudos remanescentes da RO1911 (e que são eliminados pelo AO90), esses são imprescindíveis à inteligibilidade da Língua Portuguesa.

Esta posição é verdadeiramente insustentável atendendo às incongruências e inconsistências - ao mesmo tempo linguísticas e lógicas – que encerra.

A este respeito, é bom recordar que a RO1911 eliminou da ortografia portuguesa a grande maioria das consoantes mudas etimológicas, escapando apenas aquelas que, supostamente, tinham valor fonético. Exemplificando, o 'c’ mudo etimológico nas palavras 'construCção' ou 'oCculto' foi eliminado porque não era pronunciado, mas o 'c' mudo etimológico nas palavras 'redaCção' ou 'aCtuar' foi mantido porque se pretendeu que influenciava a pronúncia da vogal átona anterior.

Nesta circunstância, como é possível Rui Duarte considerar que as consoantes mudas que sobraram da razia simplificadora de 1911 são componentes imprescindíveis ao bom entendimento da Língua e, simultaneamente, considerar que  o grosso das consoantes mudas abandonadas e esquecidas desde há cem anos não fazem falta à mesmíssima inteligibilidade?

Exemplificando, se Rui Duarte acha que os portugueses agora não sabem o que é uma “atriz” porque deixaram de escrever “aCtriz”, como é possível ele achar que os portugueses entendem corretamente o que são "contratos", ou "aflições" ou "conjunturas", ou "ocasiões" uma vez que não escrevem "contraCtos", "afliCções", "conjunCturas" e "oCcasiões", como se fazia há cem anos?


A partir daqui é quase impossível continuar a abordar o artigo de opinião de Duarte sem lhe expor o ridículo, sem o reduzir ao absurdo.


É que Rui Duarte também está seguro que os portugueses deixarão de perceber qual o país de origem dos egipcios agora que Egito se escreve sem 'p' mudo. E tem boas razões para estar preocupado. Afinal, e pelas mesmas razões, quem sabe de onde são naturais os cipriotas ou os monegascos? (saber mais)

Mas, e ao contrário do que Rui Duarte imagina, os problemas com a simplificação ortográfica não afetam apenas os portugueses.
Os ingleses têm imensa dificuldade em perceber o verdadeiro significado da palavra 'fantastic' uma vez que a escrevem sem a transliteração tradicional da letra 'phi' do étimo grego.
De igual modo, os franceses têm dificuldade em perceber o que significam as palavras 'projet' e ‘exagerer’ porque lhes faltam, respetivamente, o 'c' e o 'g' (que seriam mudos se fossem grafados) de étimo latino.
Há ainda que considerar os problemas que alemães têm para perceber plenamente o significado da palavra ‘direktor', assim com o 'k' no lugar do 'c' etimológico porque aquele 'k' é fonético, não é etimológico, ao contrário do que alguns julgam saber.

Acontece que estes são os mais felizardos. Porque pior estão os nórdicos (finlandeses, suecos, noruegueses, dinamarqueses), e os eslavos (checos, polacos, eslovenos) e outros latinos (como os espanhóis e os romenos), todos com uma ortografia terrivelmente simplificada, ainda que um pouco menos que os italianos.

Por falar em italianos, imagine-se a projeção internacional que Verdi poderia ter atingido se tivesse escrito as suas óperas numa língua mais respeitadora da etimologia, como o francês ou inglês. E Leonardo da Vinci, esse renancentista quase desconhecido; hoje seria considerado a mais brilhante mente da humanidade não tivesse ele tido o infortúnio de ter escrito às avessas e, o que é pior, de o ter feito numa ortografia quase fonética.


Portanto, talvez Rui Duarte deva seguir o bom conselho de António Emiliano, o mais lúcido dos opositores ao AO90, que acha que o argumento etimológico contra o AO não vale um caracol, e que quem o usa se põe a jeito para ser ridicularizado ao referir a importância do pechisbeque etimológico em ortografias etimológicas simplificadas, como a portuguesa.


Nota: Este post é uma adaptação e ampliação de comentário do autor publicado no Delito de Opinião. O autor agradece a oportunidade de publicação no 'em Português Grande'.

agosto 17, 2012

"Por que estou a favor do Acordo Ortográfico"

Aqui fica uma descoberta tardia mas preciosa:


 "Por estou a favor do Acordo Ortográfico"
1º - Porque não somos donos da língua portuguesa. Existem cerca de 225 milhões de lusófonos e nós, em Portugal, somos apenas 10 milhões.
Fundámos a sociedade, mas detemos só 5 por cento das acções. Queremos mandar em quem? Esse notável instrumento de comunicação representa, a par das Descobertas, um dos nossos maiores legados para a cultura universal. Criámo-la, mas constituímos uma minoria das pessoas que a falam. Ela é já muito maior do que nós. Fernando Pessoa, cidadão da palavra, compreendeu isto quando afirmou, há um século: “A minha Pátria é a Língua Portuguesa”.
2º - Porque considero necessário e útil um instrumento regulador.
As línguas são vivas e tendem a diversificar-se em cada dia que passa. Basta pensarmos no crioulo de Cabo Verde e lembrar os escritos de Mia Couto.
As pressões de outros países sobre os PALOPs não vão deixar de crescer e hão-de ter também repercussão linguística.
Dentro em breve, com acordo ou sem ele, os livros escolares dos PALOPs serão feitos no Brasil, onde os custos de produção são mais reduzidos. As telenovelas brasileiras constituem um instrumento poderoso de divulgação da língua. Não somos suficientemente competitivos nessa área.
Quer nos agrade, quer não, se a língua portuguesa perdurar no mundo, será na versão brasileira.
3º - Porque considero melhor existir um mau acordo do que não haver nenhum e deixar a língua à solta, sem nenhum mecanismo que tente, ao menos, regulá-la. São necessárias directrizes que exerçam um papel de contenção e de estruturação nas variantes que estão a nascer espontâneamente, um pouco por toda a parte.
E, tanto quanto sei, o acordo nem é assim tão mau. Não sou linguista e mal me atrevo a meter a foice nesta seara mas, a meu ver, boa parte das alterações propostas vem apenas apressar uma evolução que iria ter naturalmente o mesmo resultado, anos mais tarde. Para que servem as consoantes mudas ou não articuladas?

Este texto foi escrito em 2010 por António Trabulo, médico neurocirurgião, escritor e historiador autodidata; o original está disponível aqui.

Sair de casa e conhecer outros lugares resulta nisto: largueza de espírito e estar de bem com um mundo que todos os dias dá uma volta sobre si mesmo.

agosto 11, 2012

Mais Opositores Modelo ao AO

Já tinha sido referido neste blog que os opositores ao AO em Portugal evidenciam geralmente duas caraterísticas: a necessidade de viver num ghetto linguístico, e/ou, o desconhecimento do conteúdo do AO.

O caso seguinte é exemplificativo da segunda das caraterísticas mencionadas.

Segundo o Correio da Manhã, Iva Domingues utilizou a sua página oficial de Facebook para fazer um desabafo, mas acabou por ser alvo de duras críticas. A apresentadora da TVI afirmou que recusa escrever segundo o novo acordo ortográfico. No entanto, mostrou-se ‘confusa' quanto às normas deste tratado. "Não, não vou seguir o acordo ortográfico! Vou continuar a dizer, morto e não matado. Pago e não pagado".

Para quem (ainda) não saiba, o AO90 não diz respeito à sintaxe, mas apenas à ortografia.

Entretanto, Iva Domingues apagou o comentário erróneo do seu mural do Facebook depois de devidamente esclarecida pelos “fans”, muitos deles compreensivelmente aborrecidos e zangados.

julho 18, 2012

Repor a Normatividade Violada: Voltar a Grunhir e a Urrar

“A Assembleia da República deve repor a normatividade violada, operando um autocontrolo da validade, fazendo aprovar um acto que, reconhecendo a inconstitucionalidade das normas contidas no AO e, também, na resolução parlamentar n.º 35/2008, retire eficácia a essa, autodesvinculando o Estado português” (fonte: Publico, 2012 jul 16
Estranhamente, a queixa contra o AO90, de que se extrai o trecho acima, não requer a reposição da "normatividade violada" pela reforma ortográfica de 1945. Resta saber o que a norma ortográfica de 1945 tem de tão eterno, sagrado e intangível que o AO90 ou qualquer outra de tantas atualizações da norma ortográfica da Língua Portuguesa não têm.

E porque não pedir a reposição da “normatividade violada” por Mário Sezariny que usou uma ortografia diferente da de Eça de Queiroz?

E porque não pedir a reposição da “normatividade violada” por Eça de Queiroz que usou uma ortografia diferente da de Bocage?

E porque não pedir a reposição da “normatividade violada” por Bocage que usou uma ortografia diferente da de Luis de Camões.

E porque não pedir a reposição da “normatividade violada” por Luis de Camões quando usou uma ortografia diferente da de Gil Vicente?

E porque não pedir a reposição da “normatividade violada” por Gil Vicente quando usou uma ortografia diferente da de Fernão Lopes?

E porque não pedir a reposição da “normatividade violada” por Fernão Lopes quando usou uma ortografia diferente da dos escrivães de D.Dinis?

E porque não pedir a reposição da “normatividade violada” pelos escrivães de D.Dinis que usaram uma ortografia diferente da dos trovadores galaico-portugueses?

E porque não recuar mais umas poucas centenas de anos e pedir a reposição da “normatividade violada” pelos habitantes do ocidente peninsular que, sem o saberem, de tanto violarem a normatividade do Latim Vulgar deram início à Língua que um dia seria chamada Portuguesa?

Mas não foi o Latim Vulgar a violação da normatividade anterior? Então, porque não repor a “normatividade violada” e voltar a usar o Latim Imperial? Mas o problema mantém-se porque o Latim Imperial violou a normatividade anterior, o Latim Clássico, etc, etc..

E que tal solucionar de uma vez por todas o problema que algumas pessoas têm com a evolução e com a mudança? Como? Repondo a primeira das normatividades fonéticas e "ortográficas" violadas, isto é, voltando todos a grunhir e a urrar e a gravar figuras rupestres em pedregulhos.

julho 15, 2012

"O Português levou 8 séculos a construir"

Extrato de post de Cristina Torrão no blog 2711:
Se o Português levou 8 séculos a construir, os nossos antepassados falavam uma língua incompleta, uma língua em construção, em obras. D. Dinis, Gil Vicente, Camões, Camilo, Eça... Estavam eles conscientes disso? Pode chamar-se obra-prima àquela que foi escrita numa língua em construção? Sabiam Gil Vicente e Camões que ainda tinham de passar séculos, até que o Português estivesse plenamente construído?

Esta frase, muito usada pelos oponentes do Acordo Ortográfico, é, na minha opinião, infeliz, porque encerra, em si, uma contradição. Por um lado, admite que a língua portuguesa é o resultado de uma evolução; por outro, dita o seu bloqueio. Mais: pressupõe que o Português atingiu, enfim, a sua perfeição! Com que direito? É o Português que falamos e escrevemos hoje melhor do que o que falava e escrevia Camões? É o Português que falamos e escrevemos hoje aquele que os nossos sucessores falarão e escreverão daqui a 500 anos?

junho 15, 2012

Atraso e Isolamento Culturais por Despacho


O presidente da Câmara Municipal da Covilhã emitiu um despacho que suspende a aplicação do AO nos organismos municipais e estipula que a ortografia atualizada só será aplicada em 2015 quando terminar o período transitório. Até lá, os documentos do município e entidades agregadas serão redigidos na ortografia antiga. O texto do despacho está disponível neste momento no sítio eletrónico da CMCovilhã.

Existem dois pontos relevantes no despacho do presidente da CMCovilhã:
“[L]argos sectores da sociedade portuguesa têm vindo a questionar o método e a substância deste Acordo, na vertente da sua relação com a realidade ortográfica presente e com a falta de consenso nacional sobre esta matéria”.
O comunicado não concretiza que setores nacionais são esses, mas poderia porque eles são conhecidos. Por um lado, são os setores mais xenófobos da sociedade portuguesa; por outro, são os setores mais antilusófonos; e por último, o lobby antibrasileiro dos maus tradutores portugueses. Quanto à classificação “largos”, no sentido de numerosos, essa é impossível demonstrar.
“[Constata-se] uma falta de unidade na expressão estética em língua portuguesa que, no caso em apreço, é portador de um correlativo desprestígio institucional.”
O que significa “falta de unidade na expressão estética”? Insubstatividade frásica à parte, a que “estética” se refere o despacho do presidente da Câmara e quem são os estetas? Será que o presidente da CMCovilhã impede o uso da ortografia atualizada da Língua Portuguesa porque prefere uma ortografia com uma estética mais arcaica ou, quem sabe, mais lyoncificada?

E onde está o referido “desprestígio institucional” que não seja precisamente aquele que resulta da decisão do presidente da Câmara da Covilhã de proibir a aplicação da ortografia da Língua Portuguesa em pleno uso no Estado, na generalidade dos órgãos de comunicação social, em todos os graus e estabelecimentos de ensino público e privado, nos jornais oficiais de Portugal e da União Europeia, em partidos políticos como o PSD, PS e BE, na Igreja Católica, em todos os municípios portugueses, na Associação Nacional dos Municípios Portugueses, na Associação Nacional de Freguesias, no Fórum das Autoridades Locais da CPLP e que foi ratificada por todos os países lusófonos, com a exceção (por agora) de Angola

Como se constata, nem sempre o atraso e o isolamento do interior são estruturais; também podem ser decretados por despacho municipal.

Noticias relacionadas:
Diário As Beiras: Município da Covilhã e entidades agregadas não vão usar o novo acordo ortográfico;
CNotícas.net: Camara não adota acordo ortográfico;


Texto do despacho, conforme captura às 18:40 de hoje.
"Nos termos do Aviso n.º 255/2010, de 13 de Setembro, publicado no Diário da República, 1ª série, de 17 de Setembro de 2010, o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa já se encontra em vigor na ordem jurídica desde 13 de Maio de 2009.
Contudo, a Resolução da Assembleia da República n.º 35/2008, de 29 de Julho, que aprovou o Acordo Ortográfico, prevê um prazo transitório de seis anos para a implementação da nova grafia, ou seja, decorre até 2015 um período de transição durante o qual ainda se pode utilizar a grafia actual.
Entretanto, largos sectores da sociedade portuguesa têm vindo a questionar o método e a substância deste Acordo, na vertente da sua relação com a realidade ortográfica presente e com a falta de consenso nacional sobre esta matéria, constatando-se deste modo, uma falta de unidade na expressão estética em língua portuguesa que, no caso em apreço, é portador de um correlativo desprestígio institucional.
Nestes termos, por despacho de hoje, 15 de Junho, o Presidente da Câmara da Covilhã determinou que em toda a correspondência oficial da Autarquia e das entidades agregadas, não seja adoptado o novo Acordo Ortográfico, nos termos do período transitório estabelecido, reponderando-se esta determinação no final daquele período, isto é, em 2015."

Seixas da Costa sobre a Lusofonia

O embaixador Francisco Seixas da Costa referiu-se no seu blog ao festival Rio Loco, promovido anualmente pela Mairie de Toulouse, e que este ano é dedicado à Lusofonia


O post não deve apenas ser lido, deve também ser visto, atendendo à beleza da imagem publicada.

Destacamos o trecho final:
"Se os outros, os estrangeiros, nos qualificam como lusófonos, quem somos nós para recusar esse epíteto? Viva a lusofonia, esse fundo de riqueza de países de onde sempre se vê o mar, com culturas saudavelmente diferentes e muitas vezes distantes mas que, no essencial, se reúnem, com uma cada vez maior naturalidade, à volta de uma língua - mas também de uma bacalhauzada bem regada ou de um pastel-de-nata."

junho 09, 2012

Os Escritores Moçambicanos e o AO

A Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO) tomou posição sobre a notícia da ratificação do Acordo Ortográfico pelo governo de Moçambique:
A Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO) congratulou-se hoje com a ratificação pelo Governo moçambicano do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, considerando que a decisão coloca o país ao corrente da evolução que a língua registou nos últimos tempos.
[...]
"É bem-vindo o Acordo Ortográfico porque estávamos ansiosamente à espera que vigorasse em Moçambique. A língua não é estática, evolui e temos que estar a par dessa transformação" disse à Lusa Jorge Oliveira, secretário-geral da AEMO.
Jorge Oliveira entende que com a ratificação do acordo pelo Conselho de Ministros, Moçambique deu um passo importante no esforço de harmonização das várias ortografias usadas na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
"Penso que estão refletidas no acordo as várias tendências ortográficas em uso na CPLP. Essa preocupação ficou patente desde os trabalhos preparatórios do acordo. Moçambique está lá representado", assinalou Jorge Oliveira, rejeitando a ideia de que o tratado foi imposto pelo Brasil e Portugal. [Fonte: Notícias Sapo Angola]
O mais destacado escritor moçambicano,  Mia Couto, já tinha declarado a sua satisfação pela ratificação do AO pelo seu país.


Como é habitual nestas questões, os melhores exemplos de cultivo, valorização e reconhecimento da importância da internacionalidade da Língua Portuguesa vêm de fora. Em contrapartida, os maiores obstáculos à projeção internacional e à unidade da Língua Portuguesa são protagonizados por portugueses. A este respeito, é bastante esclarecedor confrontar a posição do secretário-geral da AEMO com a posição dos presidentes da Associação Portuguesa de Escritores e da Sociedade Portuguesa de Autores.

junho 08, 2012

Governo Moçambicano Aprovou a Proposta de Ratificação do AO90

Pós-post a 2012, jun, 11; a informação original aqui postada cita notícias que referem a ratificação ao AO pelo governo moçambicano. Estas notícias são agora corrigidas pelo Ministério dos Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, como se pode constatar pela citação seguinte:
O Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação emitiu um comunicado para clarificar as imprecisões linguísticas havidas na conferência de imprensa da última sexta-feira, na qual o ministro da tutela deu como ratificado o acordo ortográfico. No comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação refere que o que o governo moçambicano aprovou, na última quarta-feira, foi a proposta de resolução que ratifica o Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa, a ser submetido à Assembleia da República (AR), o parlamento moçambicano, para efeitos de aprovação, não propriamente o acordo ortográfico, porque este só depois de submetido ao mais alto órgão legislativo para efeitos de discussão e análise é que poderá ser aprovado e, subsequentemente, entrar em vigor. [Fonte: O País]
É presumível que o parlamento moçambicano apoie a proposta governamental de adesão do país à ortografia unificada da Língua Portuguesa.

Notícia relacionada: "Aprovada proposta de ratificação do Acordo Ortográfico; Portal do Governo de Moçambique"

O título do post foi corrigido; em seguida apresenta-se o conteúdo original do post.



O Governo Moçambicano ratificou o AO90:
O Conselho de Ministros de Moçambique ratificou na quinta-feira [07 junho] o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, declarou hoje o ministro moçambicano dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Oldemiro Baloi, seguindo o exemplo dos governos de Brasil, Cabo Verde, Portugal, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Timor-Leste.

A posição do governo de Moçambique relativa à adopção do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa tem em conta a presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que assumirá a partir de Julho, durante a cimeira de chefes de estado e de governo da comunidade lusófona, que se realizará em Maputo. [Fonte: Público]

Sobre a ratificação por Moçambique do Acordo Ortográfico o escritor moçambicano Mia Couto declarou:
"Fez bem o Conselho de Ministros ao ratificar o acordo, porque o país não podia ficar uma ilha e à margem da nova situação provocada pela vigência da ortografia aprovada pela maior parte dos países da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa)", afirmou Mia Couto.
Lembrando que nunca foi "muito adepto" das alterações introduzidas pela nova ortografia, o escritor considerou que o acordo não traz mudanças substantivas, mas cosméticas e formais. [fonte: RTP].

O AO90 entrou em vigor em Portugal no dia 13 maio 2009, data do depósito do instrumento de ratificação, conforme aviso 255/2010 publicado no Diário da República de 17 setembro 2010.

Com a ratificação moçambicana, Angola passou a ser o único membro da CPLP que ainda não ratificou o AO90.

Moçambique assume a presidência da CPLP a partir de julho próximo.



Notícias relacionadas
- Angola Press: Moçambique: Governo ratifica Acordo Ortográfico.
- ionline: Acordo Ortográfico. Governo angolano é o único que ainda não aprovou documento (inclui o historial das ratificações AO pelos países membros da CPLP.

junho 05, 2012

O “Egito”, o “egípcio” e o AO90

É habitual ler algumas avaliações negativas sobre o valor técnico do AO atendendo à eliminação do ‘p’ mudo em Egipto uma vez que o respetivo gentílico continua a ser egípcio.

No caso importa saber se a aparente discrepância Egito/egípcio é uma novidade na ortografia portuguesa trazida pelo AO ou se, pelo contrário, as irregularidades entre a designação de lugares (cidades, regiões, países) e os respetivos gentílicos são, afinal, normais e aceitáveis na língua portuguesa.

Procuremos, então, nomes de locais/países, em que os gentílicos estão mais próximos do étimo original (latino ou outro) do que a palavra usada para o lugar a que se referem:
      Chipre – cipriota
      Mónaco – monegasco
      Beja – pacense
      Braga – bracarense
      Bragança – brigantino
      Chaves – flaviense
      Coimbra – conimbricense
      Évora – eborense
      Guimarães – vimaranense
      Guarda – egitaniense
      Lagos – lacobrigense
      Santarém – escalabitano
      e agora também, Egito – egípcio.

Em conclusão, a existência de gentílicos sem correspondência estrita com a designação atual dos lugares respetivos não é uma novidade na Língua Portuguesa; trata-se antes de uma situação normal, ainda que rara, própria de uma língua que, na sua génese, é uma corrupção sistematizada da língua de origem, o latim.

Acresce que o 'p' de 'Egito' foi mantido na reforma ortográfica portuguesa de 1911 por um simples motivo: ao tempo, aquele 'p' era pronunciado; de outro modo teria sido eliminado como aconteceu por exemplo, com o 'c' de 'dicionário', apesar de ter mantido sido mantido em 'dicção'. Recorde-se que todas as consoantes etimológicas não pronunciadas foram eliminadas na reforma ortográfica portuguesa de 1911, restando apenas aquelas que, supostamente, influenciavam a pronúncia de uma vogal átona anterior.

Portanto, a questão que se coloca àqueles que imaginam que encontram um “erro técnico” em Egito/egípcio é a seguinte: o que é que o par Egito/egípcio (pós AO) tem de tão errado que o par Chipre-cipriota (antes e pós AO) e muitos outros têm de tão certo?

junho 01, 2012

AO: da inutilidade à utilidade


Extratos de duas entrevistas a Inês Pedrosa separadas por pouco mais de oito meses:
“O novo acordo é, no fundo, completamente inútil.”
2011 set 02, Correio da Manhã
[H]á um ano ligaram-me do Brasil a querer comprar o meu livro “Nas Tuas Mãos”. O governo anda a comprar livros para as escolas e quando o faz são encomendas de milhares de exemplares para os liceus. Mas só o compravam se fosse com o acordo. Eram 7 mil ou 10 mil a mais, e eu disse “com certeza”;
2012 mai 12, ionline

maio 26, 2012

Os interesses corporativos, o AO90 e a falta de “engenho e arte”


Num país tradicionalmente conservador, clientelar e corporativo, sempre que há mudanças no sentido do alargamento e da quebra de barreiras os mais incompetentes e instalados queixam-se, vociferam e exigem a reposição das proteções corporativas, mesmo que as proteções corporativas não tenham sido realmente afetadas. Os maus profissionais têm sempre medo da mudança, mesmo que não tenham razões para a temer, mas a consciência das incompetências e insuficiências próprias fala mais alto.

No caso do AO, os maus tradutores e os maus editores andam em pânico. A partir daqui, basta puxar pela ignorância, pela xenofobia e pela tamanquice (que nenhuma delas escasseia em Portugal) e sempre se obterá ressonância para nulidades contra o AO.

Vem isto a propósito deste artigo. Nele, José Jorge Letria (presidente da SPA) queixa-se que a SPA não foi ouvida sobre o AO e José Manuel Mendes (presidente da APE) queixa-se de “uma perigosa deriva da língua” originada pelo AO. O primeiro esquece que se não foi com o apoio de entidades corporativas que se decretou em 1911 a ortografia etimológica simplificada que todos os escritores hoje usam e não contestam, quer tenham adotado o AO ou não, assim como esquece que nunca um projeto legislativo foi discutido e debatido por tantos anos em Portugal como o AO foi.. O segundo esquece que a “deriva da língua” é algo natural em idiomas vivos, e que os autores são eles próprios protagonistas nas derivas linguísticas.

Estes dois tiros ao lado contra o AO têm, como outros, origem em interesses corporativos mais preocupados com perdas imaginadas do que em potenciar o tanto que autores e escritores podem retirar do AO. A todos falta “engenho e arte”.

maio 23, 2012

Presidente da República elogia o Acordo Ortográfico e sublinha a internacionalidade da Língua Portuguesa durante a visita oficial a Timor

"Durante a inauguração da Feira do Livro de Díli, Cavaco Silva visitou as várias bancas e, numa delas, destacou os livros já adaptados ao novo Acordo Ortográfico (AO).
Questionado se se adaptou à nova grafia, o Presidente da República lembrou que o AO foi ratificado pela Assembleia da República e entrou em vigor para os serviços públicos em 2012.
“Todos os meus discursos saem com o acordo ortográfico mas eu, quando estou a escrever em casa, tenho alguma dificuldade e mantenho aquilo que aprendi na escola. Mas isso é algo privado em casa, coisa diferente é a divulgação oficial de todos os documentos da Presidência”, sublinhou, salientando que não só concorda com este Acordo como participou activamente na ratificação.
(...) 
Na cerimónia de inauguração da Feira, o presidente português sublinhou a importância de iniciativas como esta para a promoção da língua portuguesa.
“Não ignoro a complexidade de que se reveste, para as autoridades timorenses, o problema da alfabetização (...) Estou certo de que Timor-Leste tudo fará para continuar, como até agora, a participar empenhadamente na tarefa, difícil mas grandiosa, que é a afirmação internacional do espaço da língua portuguesa”, disse."

Fonte: Público 2012,05,22.
Notícia relacionada: Sol, 2012,05,22

maio 22, 2012

AE.IST: “Mexihão” ou “Mechilão”, “Berbigão” ou “Brebigão”? A culpa é do AO!

É sempre com alguma deceção que vemos alguns dos mais novos virar costas ao futuro, fazer apelos à manutenção de ghettos e alinhar com os setores políticos mais xenófobos da sociedade portuguesa. Foi isso mesmo que a Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico fez ao aprovar uma moção contra a adoção do AO no IST.

Como quase todos percebem, incluindo alguns dos membros da AE.IST que votaram contra a unidade da Língua Portuguesa, estar contra o futuro não afeta o futuro, afeta apenas aqueles que lhe viram costas.

Ora, em lugar de fazer votações aprovando e apelando ao virar para trás da página do calendário, seria mais interessante, mais ajuizado e sobretudo mais eficaz, que a AE.IST votasse uma proposta apelando ao fim da boçalidade, grosseria e da violência nas chamadas praxes académicas como aquela que pode ser vista no vídeo abaixo protagonizadas por alunos do IST.


Ao certo não sabemos quantos dos alunos do IST que se podem ver e ouvir no vídeo são contra o AO. Mas a avaliar pela propensão para coreografias grotescas e obscenidades verbais com bivalves à mistura, é de admitir que muitos não saibam se se escreve “mexilhão” ou “mechilão”, “berbigão” ou “brebigão”, e que alguns imaginem que a culpa é do Acordo Ortográfico.

Também com cenas e figuras tristes se faz a oposição ao Acordo Ortográfico em Portugal.

abril 27, 2012

Desmontando a Falácia Filológica


A etimologia é um dos três fundamentos em que assenta a oposição à adoção e implementação do AO90 em Portugal.

A este respeito, os argumentos usados por António Emiliano numa das suas notas sobre  AO publicadas no Facebook (também referida aqui) assumem relevância e significado maiores porque são emitidos por um especialista na matéria e opositor ao AO. Selecionámos o trecho seguinte (sublinhados nossos):
O problema “técnico” principal desta hedionda Base IV devoradora de letras e brasilificadora do português língua escrita não é etimológico, como clamam alguns desacordistas.
[…]
A matriz ortográfica greco-latina da língua portuguesa há muito que foi desfigurada por decreto (e cá continuamos, escrevendo português, de forma menos bela e adequada, mas português quand-même): invocar a dita matriz greco-latina é argumento que não vale um caracol na presente controvérsia e só serve para alimentar a imagem negativa que os acordistas gostam de dar a quem lhes faz frente.

O citado  reserva-se o direito de mudar de opinião, pelo que o conteúdo transcrito corresponde à opinião publicada nesta data.

A Essência da Oposição ao AO em Portugal: Aversão à Lusofonia


… ou dois esboços por mão própria da Falácia Proprietária anti AO em Portugal

(1)
Miguel Támen, professor na universidade de Letras de Lisboa, deu uma entrevista ao jornal digital i desassombrada sobre a razão mais profunda que move os poucos mas bem colocados opositores ao AO90 em Portugal. A este respeito, destacamos as duas respostas seguintes (sublinhados nossos):
P: Qual a sua posição no que diz respeito ao AO?
R: Há pessoas que dizem que o acordo é mau porque foi tecnicamente mal feito; há outros que consideram que o acordo é mau porque é inválido e porque, juridicamente, não está em vigor; há ainda as pessoas que criticam o acordo como erro político, uma cedência a países terceiros; aqueles que são contra por entenderem que o acordo é ineficaz, por não existir um modo exequível ou prático de o implementar; e, por fim, os que o rejeitam por acharem que coisas como a língua não devem ser objecto de legislação e acordos. Percebo todas estas posições e concordo essencialmente com a última, mas a minha objecção principal não coincide com nenhuma destas.
P: Qual é então essa sua principal objecção?
R: Eu acho que o acordo é mau porque a ideia de lusofonia é má. Na minha opinião, tudo o que invoque a noção de lusofonia me parece deplorável.
(2)
António Emiliano, professor na U.Nova de Lisboa, tem uma opinião similar sobre o assunto; no que respeita à oposição ao AO, há que distinguir entre o lateral do fundamental, o acessório do essencial, como se constata no extrato seguinte (sublinhados nossos);
Com todos os problemas que a ortografia portuguesa em vigor possa ter — e tem-nos de facto e muitos e muito graves — não se mexe numa ortografia estabilizada [...] sem, acima de tudo, se acautelar o INTERESSE NACIONAL, que, no caso vertente, não reside alhures, p. ex. em terras de África ou de Vera Cruz.
O trecho acima foi retirado desta nota sobre o AO no mural do citado no Facebook. O autor reserva-se o direito de mudar de opinião, pelo que a transcrição corresponde à opinião publicada nesta data.

abril 25, 2012

Declarações do Secretário de Estado da Cultura sobre o Acordo Ortográfico

Declarações de José Manuel Viegas, Secretário de Estado da Cultura, sobre o Acordo Ortográfico proferidas aquando da inauguração da 82ª edição da Feira do Livro de Lisboa:
Portugal subscreveu o acordo ortográfico, é um dos signatários, ele está em vigor. Neste momento só dois países, Angola e Moçambique, ainda não o ratificaram. As indicações que temos das cimeiras de Luanda, é que a posição de Angola e Moçambique será definida agora. Isto é: será definido o modo como vão ratificar o acordo. Mas a indicação que temos é de que o vão ratificar”, afirmou o secretário de Estado da Cultura. “Não há revisão. O acordo é um instrumento legal e foi ratificado por parlamentos de diferentes países. O que pode haver, e isso está consignado na lei, é a possibilidade de se fazerem acertos no Vocabulário Ortográfico Comum. Será apresentada uma versão beta, ainda durante este ano, e até 2014 estará encerrado. Repare, ainda nem sequer estão incluídas no Vocabulário Ortográfico Comum as contribuições de Angola e Moçambique. Nessa matéria é que há abertura. Agora o AO está em vigor.
Fonte: Público: [1] e [2].
Notícia relacionada: Sol.

abril 23, 2012

A Igreja Católica e o Acordo Ortográfico


A Igreja Católica foi uma das entidades pioneiras na adoção do Acordo Ortográfico em Portugal. O Livro de Estilo da Agência Ecclesia revisto em abril de 2011 já foi redigido na norma ortográfica atual. No que respeita aos comunicados da Conferência Episcopal Portuguesa, o último na ortografia antiga foi publicado em maio de 2011 e o primeiro na ortografia atualizada foi publicado em setembro também do ano passado.

Assim, é com algum interesse que acompanhamos a dissociação da Rádio Renascença (que ainda não adotou o AO nos conteúdos do seu website) das diretrizes emanadas pela cúpula da Igreja Católica portuguesa.

abril 17, 2012

VGM + AO + 1 = Surpresa n+1

Já sentíamos todos - apoiantes ou difamantes da internacionalidade da Língua portuguesa - a falta de opiniões surpreendentes do Dr.Vasco Graça Moura sobre a aplicação do AO em Portugal. E VGM correspondeu uma vez mais às expetativas em artigo de opinião publicado no DN do passado dia 11 e de que só hoje tomamos conhecimento.

No artigo, VGM sugere uma vez mais que Portugal retroceda na aplicação do AO. Isto não é novidade, novidade é a justificativa. Desta vez, e na opinião do articulista, a respeito do cumprimento dos compromissos internacionais assumidos, Portugal não deve acompanhar o Brasil; deve, isso sim, comportar-se como uma conhecida república africana!!!

No que concerne às opiniões emitidas sobre o AO, o Dr.Vasco Graça Moura tem o condão de deixar todos - apoiantes ou difamantes da internacionalidade da Língua Portuguesa - igualmente felizes.

abril 13, 2012

O AO na Administração Pública – Maus Exemplos

Apesar do bom exemplo público referido aqui, por vezes os maus exemplos vêm precisamente daqueles que deviam liderar a mudança, nos termos inscritos na sua própria Missão institucional.

Três meses depois da obrigatoriedade de uso do AO na Administração Pública, a AMA - Agência para a Modernização Administrativa mantém os conteúdos do seu portal eletrónico em ortografia desatualizada, exceto os conteúdos inseridos a partir de 2012 e os documentos datados anteriores a 2012.
A imagem abaixo ilustra a situação (os sublinhados a vermelho são nossos):


Convém lembrar que:
-a atualização ortográfica dos portais eletrónicos pode ser um procedimento automático, bastando para o efeito usar as ferramentas informáticas disponíveis;
-o Portal do Cidadão é um recurso eletrónico gerido pela AMA, e já aqui havíamos notado a adoção tardia do AO naquele portal de tanta visibilidade e que, supostamente, deveria constituir um exemplo público de destreza no tratamento desmaterializado de informação na AP.

É caso para dizer que, para a AMA, modernização administrativa sim, mas tarde e devagarinho.

O AO na Administração Pública – Bons Exemplos

Desde o início do ano que todas as instituições públicas da administração direta e indireta do Estado estão a aplicar o AO nos novos documentos ou novos conteúdos eletrónicos. Ainda assim, são notórios a falta de competência e o desleixo de muitas Direções Superiores de organismos públicos no que respeita à atualização ortográfica dos todos os conteúdos em linha, com a óbvia exclusão de documentos emitidos antes de 2012.

Mas nem tudo é desleixo e/ou incompetência, como comprova o IGP - Instituto Geográfico Português, IP.

O IGP reviu e atualizou a ortografia de todo o seu site institucional. Na figura seguinte, imagem de uma página cuja atualização ortográfica não corresponde à inserção de conteúdos novos, mas sim a uma revisão efetuada com o propósito expresso de aplicar a legislação em vigor sobre o tema (os sublinhados a azul são nossos):



A atualização de páginas eletrónicas institucionais é um procedimento simples e pode ser efetuado automaticamente. Trata-se apenas de uma questão de brio dos responsáveis superiores.