fevereiro 28, 2013

Razões contra o AO (Eunice Mota)

Transcrito a parir de comentário de Eunice Mota publicado no fórum "Aplicação do AO", da AR.


Da minha observação de várias páginas anti AO do facebook resulta que existem várias motivações diferentes para se estar contra o acordo:
a) Revolta e contestação ao Governo PS (a maioria);
b) Ódio xenófobo em relação ao Brasil;
c) Apego bairrista à convicção de que Portugal é dono e senhor da Língua Portuguesa;
d) Incapacidade, preguiça ou má vontade em reaprender a grafia de algumas palavras;
e) Fobia das mudanças, habitual em pessoas mais idosas;
f) Convicções infundadas de que simplificar uma língua resulta em maior analfabetismo e pobreza do respetivo País;
g) Apego desmesurado a regras que automaticamente caducam, e confusão mental em relação às novas;
h) Suposto afastamento de algumas palavras em relação à etimologia, o que não é novidade desde 1911;
i) Medo do desemprego, pelo menos de um tradutor português receoso da futura concorrência brasileira;
j) Porque sim;
k) Porque o acordo é gay (!!!)
l) Noção errada de que as outras grandes línguas não fizeram reformas nem acordos;
m) Suposição discutível de que as editoras brasileiras levarão as portuguesas à falência;
n) Não gostar das mudanças;
o) A língua portuguesa não tem de se escrever como se fala; (voltemos à orthographia)
p) As línguas não se alteram por decreto (certo, mas estamos só a falar de ortografia)
q) O que se escreveu até hoje fica desatualizado (e...?)
r) A ortografia faz parte da língua e esta faz parte da cultura e identidade de um povo, logo, é intocável. (Parece que perdemos identidade em 1911, 1931, 1945, 1973...)
s) reação emocional por as pessoas se sentirem violentadas (carece de ulterior explicação)
t) somos uns lambe-botas e fazemos tudo para agradar aos outros (!!)
u) há mais analfabetos no Brasil que em Portugal
v) no Brasil há pessoas que dão erros e vão ter cargos públicos
w) alguns jornais saem com "gralhas" tipográficas
x) o que me ensinaram na primária é que está certo
y) alterar 2% das grafias estropia irremediavelmente as várias vertentes nacionais da língua e as palavras ficam irreconhecíveis
z) porque o Bill Gates já tem o corretor do Word com as duas variantes, EU e BR.
aa) os brasileiros já falam outra língua
ab) O Brasil quer dominar o mundo, e isto é mais uma manobra nesse sentido.
ac) as pessoas vão de deixar saber ler e escrever (atestado de estupidez ao povo português)
ad) a grande maioria dos portugueses está contra o acordo (isto sem qualquer estudo sério, note-se)
ae) vamos escrever brasileiro, abrasileirar a escrita (como se os brasileiros não estivessem a aportuguesar a escrita...)
af) O AO está a provocar muitos erros nos "media". (a culpa é do AO, ou da campanha contra ele, que põe a circular erros de propósito para poder afirmar que a culpa é do AO??)
ag) o AO foi inventado por Evanildo Bechara quando estava bêbedo
ah) o AO foi escrito entre caipirinhas e copos de tinto Entretanto, parei por aqui... pode ser que já tenham aparecido mais razões igualmente boas... Resta saber, de todos quantos criticam o acordo, quantos o leram.

fevereiro 27, 2013

Demos aos difamantes do AO1990 o mesmo destino que os portugueses deram aos difamantes das reformas ortográficas de 1911, 1945 e 1973: um lugar no caixote do lixo da História


Pergunta: as motivações dos difamantes do AO de hoje não são as mesmas dos difamantes da reforma ortográfica de 1911 simplificadora de grafemas gregos e arrasadora da generalidade das consoantes mudas?
Quantos “estudos” e opiniões “fundamentadas” foram ou poderiam ter sido produzidos ao tempo por "especialistas" criticando a simplificação ortográfica e pedindo o regresso ao passado?

Pergunta: as motivações dos difamantes do AO do hoje não são as mesmas dos difamantes da reunificação ortográfica com o Brasil que se julgou ter alcançado com as reformas de 1943, primeiro, e 1945, depois?
Quantos “estudos” e opiniões “fundamentadas” foram ou poderiam ter sido produzidos ao tempo por “especialistas” criticando a simplificação da diacrítica, alertando para os “perigos” da reunificação ortográfica luso-brasileira, e pedindo o regresso ao passado?

Pergunta: as motivações dos difamantes do AO de hoje não são as mesmas dos difamantes da reforma ortográfica de 1973, simplificadora da diacrítica e expressamente destinada a dar mais um passo na desejada reunificação ortográfica com o Brasil?
Quantos “estudos” e opiniões “fundamentadas” foram ou poderiam ter sido produzidos ao tempo por “especialistas” criticando mais uma simplificação da diacrítica, alertando para os “perigos” da reunificação ortográfica luso-brasileira, e pedindo o regresso ao passado?

Última pergunta: os “estudos” e opiniões “fundamentadas” produzidos pelos “especialistas” difamantes do AO de hoje não têm o mesmo propósito dos “estudos” e opiniões “fundamentadas” produzidos por todos os “especialistas” difamantes de todas as outras reformas ortográficas que visaram a simplificação ortográfica e/ou a reunificação ortográfica com o Brasil?
Sabemos nós e os “especialistas” difamantes, que sim.

Nesta circunstância, resta aos portugueses de hoje dar aos “especialistas“ difamantes do AO1990 o mesmo destino que os portugueses de 1911, 1945 e 1973 deram aos “especialistas” difamantes das reformas ortográficas desses tempos: um lugar no caixote do lixo da História.

(também aqui.)

fevereiro 26, 2013

"O AO é uma questão política"

Transcrição do comentário de José Cunha-Oliveira no fórum "Aplicação do Acordo Ortográfico" da AR.


A discussão sobre o Acordo Ortográfica é ociosa e inútil. Quem é contra porque sim, porque lhe apetece. Quem tem razões para ser a favor continua a ter as mesmas razões.
A questão não é técnica nem científica, é política. 
De um lado estão os que defendem uma política da Língua isolacionista e bacoca, aqui e ali adubada com um truculento nacionalismo triunfalista do segundo terço do século passado; do outro lado, os que defendem uma política da Língua que respeite a igualdade entre todos os países e regiões da Língua, uma política que realce e defenda o seu lugar privilegiado no panorama linguístico do mundo, onde, por força das coisas, o Brasil representa [mais de] três quartos dos falantes. 
Não existe Lusofonia com peso no mundo sem o Brasil. Por isso, é natural que uma política da Língua inclua obrigatoriamente o Brasil. Brasil que, ainda por cima, tem uma relevância económica e política mundial que Portugal não tem. O Brasil só precisa de nós para ser no mundo mais que uns meros 200 milhões de falantes de uma só Língua; nós precisamos do Brasil para termos a importância que significa falarmos a terceira Língua a nível mundial. Para isso, precisamos de uma norma escrita comum, que, por sinal, fomos nós a destrui-la com a iniciativa legislativa isolada dos republicanos de 1911. Um século depois, chegou a hora de definir quem somos.
É a hora de atitudes políticas consistentes. É a hora de sermos portadores de uma Língua mundialmente importante ou de sermos uma língua sem qualquer relevância mundial. Os argumentos e as decisões são da política e de política da Língua. É para isso que se quer a política. Se ficarmos isolados, nós, os nove milhões e pico, mais os falsos milhões de certos países lusófonos onde a lusografia e a lusofonia está longe de ser a regra, representamos, na mais otimista das hipóteses, um quarto dos falantes. Ou seja, temos a importância que merecemos. 
Deixemo-nos de discussões ridículas e inúteis. 
Claro que a nova ortografia é uma questão política, e não linguística. É mesmo uma questão política essencial. É claro que a longa preparação e a assinatura do Acordo, sua ratificação pela Assembleia da República e promulgação pelo Presidente da República foi uma obra política. Assim como é política a sua absurda rediscussão, se é que é o caso. Se o não fosse, por que razão alguns quereriam referendar uma questão “linguística”? Se o não fosse, por que motivo a Assembleia da República criaria uma Comissão, uma Subcomissão e um Fórum para discutir a coisa? 
Já agora, pergunto: os votantes desse tal referendo são [todos] linguistas? Os deputados são [todos] linguistas? Os contristas são [todos] linguistas? Os ignorantes são [todos] linguistas? Pois é, a nova ortografia é uma questão essencial de política da Língua...

fevereiro 13, 2013

"Não há divergências quanto ao acordo ortográfico garante ministro"

Notícia:
Paulo Portas explica que acordo ortográfico entrará em vigor na totalidade em Portugal em Maio de 2015 e no Brasil apenas seis meses depois.
Paulo Portas considera que não há divergências entre Portugal e o Brasil sobre a aplicação total do acordo ortográfico. O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros diz que o Brasil apenas alargou em mais três anos o período de transição para a entrada em vigor do acordo. 
Diz Paulo Portas que, desta forma, o acordo ortográfico entrará em vigor na totalidade em Portugal em Maio de 2015 e no Brasil apenas seis meses depois. “Não são verdadeiras as notícias que dizem que o Brasil paralisou o processo de entrada em vigor total do acordo ortográfico”, explica o ministro. 
Segundo o ministro, ficou decidido um período de transição de seis anos, “que vai até ao Maio de 2015”. “O que o Brasil fez o ampliar de três para seis anos a entrada em vigor total do acordo”. 
O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, que tutela o Instituto Camões e da Língua Portuguesa, respondia a questões dos deputados no Parlamento, esta noite, e reiterou que no nosso país “serão cumpridos os prazos e que as novas regras” para a escrita do Português entrarão em vigor daqui por dois anos."

Fonte.

fevereiro 12, 2013

Desacordistas Sem Máscara em Dia de Carnaval


Em dia de carnaval, há quem não ponha máscaras na oposição do AO.

É o caso dos camaradas abaixo:





Estes exemplos de "bem falar" e "bem escrever" em defesa da Língua de "Camons" contra o Acordo Ortográfico, emitidos por dois exemplares da espécie "quem os colonizou", foram obtidos na página do Facebook do único partido político português que se  bate contra o AO:




Por defeitos que tenham, estes dois camaradas são mais honestos e claros que os camaradas que se escondem atrás de "lemas" e "consoantes mudas".

Das trafulhices anti-AO

N'A Lâmpada Mágica':
"A regra mais básica para quem quer discutir as coisas com um mínimo de seriedade é não falsificar dados. Logo a seguir na escala das regras indispensáveis vem esta: não selecionar os dados que convém, fingindo que os outros não existem. Vem isto a propósito de uma senhora [...] que parece que é (ainda será?) consultora do Ciberdúvidas"
Continuar a ler no post "Os números verdadeiros sobre a mudança ortográfica".

fevereiro 06, 2013

A Sociedade Portuguesa de Autores e o AO

Com atraso demasiado comentamos aqui o conteúdo do comunicado "[A] Sociedade Portuguesa de Autores não adopta o novo acordo ortográfico perante as posições do Brasil e de Angola sobre a matéria", de 2013jan09.

Neste comunicado  o Conselho de Administração da SPA declara que "continuará a utilizar a norma ortográfica antiga" porque o Brasil adiou para 2016 uma decisão final sobre o assunto. Acontece que o Brasil não poderia ter adiado para 2016 uma decisão final sobre o AO porque a decisão final sobre o AO já foi tomada e entrou em vigor na ordem jurídica brasileira em 2009. Aquilo que a presidente do Brasil fez foi decretar o adiamento para o final de 2015 do termo do período de transição, que deveria ter terminado em 2012. Ainda assim, deveria o CA da SPA ter também tido em consideração que, no Brasil, o AO está totalmente implementado no sistema de ensino, na comunicação social, nas edições literárias e nas diversas instâncias do poder político federal e estadual.

Ainda quanto ao Brasil, o CA da SPA não usou como fator de ponderação da sua decisão de continuar a "utilizar a norma ortográfica antiga"  a a posição contrária ao prolongamento do período transitório tomada pela Academia Brasileira de Letras. Porquê?

O CA da SPA também declara que "continuará a utilizar a norma ortográfica antiga" porque em Angola as insuficiências do sistema de ensino são parcialmente camufladas com apegos a consoantes mudas. Ma só por equívoco ou distração pode uma associação cívica e profissional portuguesa, promotora e defensora do cumprimento da lei, sustentar as suas posições internas com base na incompetência mal disfarçada do Governo de Angola ou no incumprimento de um Tratado Internacional por parte de um dos signatários.

Ainda quanto a África, o CA da SPA não usou como fator de ponderação da sua decisão de continuar a "utilizar a norma ortográfica antiga" a posição da Associação dos Escritores Moçambicanos sobre o AO. Porquê?

Finalmente, sabemos que existem membros da SPA que aprovam e usam o AO, e membros que não o aprovam nem usam. No entanto, CA toma partido pela opinião de uns contra a opinião de outros. Aqui não se coloca a questão de maiorias vs minorias. O que aqui está em causa é a isenção, o respeito pela diferença, a tolerância, a defesa da  liberdade de opinião. Tudo estes valores foram postos em causa precisamente por pelo órgão superior da SPA. Lamentável.

Sobre o tema:
"Os interesses corporativos e o AO";
"Os escritores moçambicanos e o AO";
"O brasileiro é um português à solta"

fevereiro 05, 2013

Lindley Cintra: "As Origens do Novo Acordo"

O Ciberdúvidas disponibilizou um artigo sobre as origens do AO90 da autoria do mais importante filólogo português do século 20, Lindley Cintra, publicado no Expresso em 1986.

Um quarto de século depois, o artigo mantém-se precioso e atual.

Ler aqui.





fevereiro 01, 2013

"A ordem natural das coisas é haver evolução"


Extrato de post publicado no blog "Vale o que vale":
"[P]ara mim este acordo tal como outras reformas que já existiram, são uma forma de manter a língua "viva", em evolução, a acompanhar os tempos. Se tal nunca tivesse havido, hoje em dia nem o português nem tantas outras línguas existiam, e ainda usaríamos o latim. Haveria algum problema nisso? Claro que não. O latim é uma língua como outra qualquer, mas a ordem natural das coisas é haver evolução. Se houver algo que não evolui, penso que mais cedo ou mais tarde acaba por cair no esquecimento. Ou então acontece-lhe o mesmo que aconteceu ao latim: não desapareceu, mas hoje em dia é considerada uma língua morta.
Esta é apenas mais uma reforma da nossa língua. Sim, porque ela vai continuar a ser a nossa língua. Isso ninguém nos tira. Apenas vai haver algumas palavras que vão passar a ser escritas de outra forma. Que diriam se hoje em dia caravela fosse caravella ou psicologia fosse psychologia. É que até ao início do século XX era assim que se escrevia. Calculo que na altura também tenha havido quem se insurgisse contra estas e tantas outras mais alterações introduzidas na língua portuguesa. Mas se estas alterações não tivessem sido feitas, se calhar era assim que ainda hoje escreveríamos."
 Texto integral aqui.