abril 27, 2012

Desmontando a Falácia Filológica


A etimologia é um dos três fundamentos em que assenta a oposição à adoção e implementação do AO90 em Portugal.

A este respeito, os argumentos usados por António Emiliano numa das suas notas sobre  AO publicadas no Facebook (também referida aqui) assumem relevância e significado maiores porque são emitidos por um especialista na matéria e opositor ao AO. Selecionámos o trecho seguinte (sublinhados nossos):
O problema “técnico” principal desta hedionda Base IV devoradora de letras e brasilificadora do português língua escrita não é etimológico, como clamam alguns desacordistas.
[…]
A matriz ortográfica greco-latina da língua portuguesa há muito que foi desfigurada por decreto (e cá continuamos, escrevendo português, de forma menos bela e adequada, mas português quand-même): invocar a dita matriz greco-latina é argumento que não vale um caracol na presente controvérsia e só serve para alimentar a imagem negativa que os acordistas gostam de dar a quem lhes faz frente.

O citado  reserva-se o direito de mudar de opinião, pelo que o conteúdo transcrito corresponde à opinião publicada nesta data.

A Essência da Oposição ao AO em Portugal: Aversão à Lusofonia


… ou dois esboços por mão própria da Falácia Proprietária anti AO em Portugal

(1)
Miguel Támen, professor na universidade de Letras de Lisboa, deu uma entrevista ao jornal digital i desassombrada sobre a razão mais profunda que move os poucos mas bem colocados opositores ao AO90 em Portugal. A este respeito, destacamos as duas respostas seguintes (sublinhados nossos):
P: Qual a sua posição no que diz respeito ao AO?
R: Há pessoas que dizem que o acordo é mau porque foi tecnicamente mal feito; há outros que consideram que o acordo é mau porque é inválido e porque, juridicamente, não está em vigor; há ainda as pessoas que criticam o acordo como erro político, uma cedência a países terceiros; aqueles que são contra por entenderem que o acordo é ineficaz, por não existir um modo exequível ou prático de o implementar; e, por fim, os que o rejeitam por acharem que coisas como a língua não devem ser objecto de legislação e acordos. Percebo todas estas posições e concordo essencialmente com a última, mas a minha objecção principal não coincide com nenhuma destas.
P: Qual é então essa sua principal objecção?
R: Eu acho que o acordo é mau porque a ideia de lusofonia é má. Na minha opinião, tudo o que invoque a noção de lusofonia me parece deplorável.
(2)
António Emiliano, professor na U.Nova de Lisboa, tem uma opinião similar sobre o assunto; no que respeita à oposição ao AO, há que distinguir entre o lateral do fundamental, o acessório do essencial, como se constata no extrato seguinte (sublinhados nossos);
Com todos os problemas que a ortografia portuguesa em vigor possa ter — e tem-nos de facto e muitos e muito graves — não se mexe numa ortografia estabilizada [...] sem, acima de tudo, se acautelar o INTERESSE NACIONAL, que, no caso vertente, não reside alhures, p. ex. em terras de África ou de Vera Cruz.
O trecho acima foi retirado desta nota sobre o AO no mural do citado no Facebook. O autor reserva-se o direito de mudar de opinião, pelo que a transcrição corresponde à opinião publicada nesta data.

abril 25, 2012

Declarações do Secretário de Estado da Cultura sobre o Acordo Ortográfico

Declarações de José Manuel Viegas, Secretário de Estado da Cultura, sobre o Acordo Ortográfico proferidas aquando da inauguração da 82ª edição da Feira do Livro de Lisboa:
Portugal subscreveu o acordo ortográfico, é um dos signatários, ele está em vigor. Neste momento só dois países, Angola e Moçambique, ainda não o ratificaram. As indicações que temos das cimeiras de Luanda, é que a posição de Angola e Moçambique será definida agora. Isto é: será definido o modo como vão ratificar o acordo. Mas a indicação que temos é de que o vão ratificar”, afirmou o secretário de Estado da Cultura. “Não há revisão. O acordo é um instrumento legal e foi ratificado por parlamentos de diferentes países. O que pode haver, e isso está consignado na lei, é a possibilidade de se fazerem acertos no Vocabulário Ortográfico Comum. Será apresentada uma versão beta, ainda durante este ano, e até 2014 estará encerrado. Repare, ainda nem sequer estão incluídas no Vocabulário Ortográfico Comum as contribuições de Angola e Moçambique. Nessa matéria é que há abertura. Agora o AO está em vigor.
Fonte: Público: [1] e [2].
Notícia relacionada: Sol.

abril 23, 2012

A Igreja Católica e o Acordo Ortográfico


A Igreja Católica foi uma das entidades pioneiras na adoção do Acordo Ortográfico em Portugal. O Livro de Estilo da Agência Ecclesia revisto em abril de 2011 já foi redigido na norma ortográfica atual. No que respeita aos comunicados da Conferência Episcopal Portuguesa, o último na ortografia antiga foi publicado em maio de 2011 e o primeiro na ortografia atualizada foi publicado em setembro também do ano passado.

Assim, é com algum interesse que acompanhamos a dissociação da Rádio Renascença (que ainda não adotou o AO nos conteúdos do seu website) das diretrizes emanadas pela cúpula da Igreja Católica portuguesa.

abril 17, 2012

VGM + AO + 1 = Surpresa n+1

Já sentíamos todos - apoiantes ou difamantes da internacionalidade da Língua portuguesa - a falta de opiniões surpreendentes do Dr.Vasco Graça Moura sobre a aplicação do AO em Portugal. E VGM correspondeu uma vez mais às expetativas em artigo de opinião publicado no DN do passado dia 11 e de que só hoje tomamos conhecimento.

No artigo, VGM sugere uma vez mais que Portugal retroceda na aplicação do AO. Isto não é novidade, novidade é a justificativa. Desta vez, e na opinião do articulista, a respeito do cumprimento dos compromissos internacionais assumidos, Portugal não deve acompanhar o Brasil; deve, isso sim, comportar-se como uma conhecida república africana!!!

No que concerne às opiniões emitidas sobre o AO, o Dr.Vasco Graça Moura tem o condão de deixar todos - apoiantes ou difamantes da internacionalidade da Língua Portuguesa - igualmente felizes.

abril 13, 2012

O AO na Administração Pública – Maus Exemplos

Apesar do bom exemplo público referido aqui, por vezes os maus exemplos vêm precisamente daqueles que deviam liderar a mudança, nos termos inscritos na sua própria Missão institucional.

Três meses depois da obrigatoriedade de uso do AO na Administração Pública, a AMA - Agência para a Modernização Administrativa mantém os conteúdos do seu portal eletrónico em ortografia desatualizada, exceto os conteúdos inseridos a partir de 2012 e os documentos datados anteriores a 2012.
A imagem abaixo ilustra a situação (os sublinhados a vermelho são nossos):


Convém lembrar que:
-a atualização ortográfica dos portais eletrónicos pode ser um procedimento automático, bastando para o efeito usar as ferramentas informáticas disponíveis;
-o Portal do Cidadão é um recurso eletrónico gerido pela AMA, e já aqui havíamos notado a adoção tardia do AO naquele portal de tanta visibilidade e que, supostamente, deveria constituir um exemplo público de destreza no tratamento desmaterializado de informação na AP.

É caso para dizer que, para a AMA, modernização administrativa sim, mas tarde e devagarinho.

O AO na Administração Pública – Bons Exemplos

Desde o início do ano que todas as instituições públicas da administração direta e indireta do Estado estão a aplicar o AO nos novos documentos ou novos conteúdos eletrónicos. Ainda assim, são notórios a falta de competência e o desleixo de muitas Direções Superiores de organismos públicos no que respeita à atualização ortográfica dos todos os conteúdos em linha, com a óbvia exclusão de documentos emitidos antes de 2012.

Mas nem tudo é desleixo e/ou incompetência, como comprova o IGP - Instituto Geográfico Português, IP.

O IGP reviu e atualizou a ortografia de todo o seu site institucional. Na figura seguinte, imagem de uma página cuja atualização ortográfica não corresponde à inserção de conteúdos novos, mas sim a uma revisão efetuada com o propósito expresso de aplicar a legislação em vigor sobre o tema (os sublinhados a azul são nossos):



A atualização de páginas eletrónicas institucionais é um procedimento simples e pode ser efetuado automaticamente. Trata-se apenas de uma questão de brio dos responsáveis superiores.

abril 11, 2012

Declarações do Primeiro-Ministro Sobre o AO90

Declarações do primeiro-ministro sobre o AO proferidas a 10 abril 2012 na Escola Portuguesa de Maputo no âmbito da sua visita oficial a Moçambique:
"Passos Coelho foi questionado pelos jornalistas sobre a ratificação do novo Acordo Ortográfico por Moçambique e por Angola, e já rubricado pelo Brasil e por Portugal.
"As alterações às regras ortográficas causam sempre desconforto. Em Portugal também têm causado algum desconforto, mas elas podem ser importantes, sobretudo, quando olhamos para a importância que está para além dessas regras, do uso da língua, que vai desde o Brasil até Timor", disse o primeiro-ministro.
"Estamos a falar de 250 milhões de falantes, que falam de forma diferente. Estou convencido que, quer em Moçambique, quer em Angola, encontraremos forma de fazer uma ratificação mais pronta deste acordo ortográfico", declarou."
Fonte: Dinheiro Vivo

abril 05, 2012

Não-Notícia (3) – “Mãe Põe em Causa Aplicação do Acordo Ortográfico nas Escolas”

O Público divulgou que a mãe de uma criança de sete anos não quer que a filha aprenda a ler e escrever segundo a norma ortográfica em vigor. A partir daqui o Público faz uma "notícia" com o título "Mãe põe em causa aplicação do acordo ortográfico nas escolas em carta dirigida a Crato".

Portanto, para o Público as cartas com reclamações particulares enviadas aos ministros são notícia. É também notícia anunciar que o sistema escolar está posto em causa com base em opiniões e interpretações enviesadas da lei e da realidade comunicadas ao jornal por um qualquer cidadão.

A respeito do AO, o Público retoma o histerismo de outras não-notícias [1] [2] e empenha-se em confundir moinhos de vento com gigantes.

Se o Público estivesse disponível para difundir outras não-notícias sobre o sistema de educação com base em visões quixotescas da legalidade seria de esperar que brindasse os leitores com títulos do tipo:
- Mãe vegetariana põe em causa a legalidade das refeições com carne servidas nas cantinas escolares:
- Pai muçulmano põe em causa a legalidade das turmas mistas nas escolas;
- Primo de aluna menor fumadora põe em causa a legalidade de interdição de fumar dentro dos perímetros escolares;
- Avô membro da comunidade Pio X põe em causa a legalidade do ensino do heliocentrismo às crianças.


Há, no entanto, um dado na não-notícia do Público que, esse sim, tem toda a relevância: foram dirigidas 10 (dez) cartas ao Ministério da Educação em protesto contra a aplicação do AO no ano letivo 2011/12. A partir daqui, haveria que comparar este número (10) com o número de alunos que frequentam os sistemas de ensino básico e secundário: 1,700,000 (um milhão e setecentos mil) alunos.

O Público poderia ter aproveitado os factos, e não as opiniões, para construir uma notícia em lugar amplificar desproporcionadamente as rancorosas vozes anti AO em Portugal. Nesse caso o título seria: “É irrelevante o número de encarregados de educação que contesta a aplicação do AO no sistema de ensino”.


O ódio cega, como se comprova pela ausência de ética jornalística no Público face ao AO90.