março 31, 2013

Iniciativa Legislativa pela Língua chega ao Parlamento


A Iniciativa Legislativa popular atingiu o número necessário de subscritores e foi entregue no Parlamento:
“[S]eis meses depois de ser apresentada ante o Parlamento da Galiza, a Comissão Promotora da Proposta de Lei por Iniciativa Legislativa Popular que leva o sobrenome do homenageado do Dia das Letras Galegas do passado ano, Valentim Paz-Andrade, formaliza a entrega das 17.000 assinaturas que asseguram a continuação da sua tramitação parlamentar. A iniciativa procura uma série de medidas que facilitem o acesso dos galegos ao universo de língua portuguesa e um maior relacionamento com a Lusofonia.

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A Iniciativa Legislativa Popular galega insere-se na luta desigual dos galegos na defesa da dimensão internacional da Língua da Galiza. Entre as estratégias de valorização do Galego-Português está, naturalmente, a recusa do isolamento ortográfico através da adoção AO90, em cuja preparação participou a Academia Galega da Língua.

Na Galiza, as Iniciativas Legislativas Populares necessitam 15000 subscritores para poderem ser apreciadas e votadas no Parlamento. A ILP conseguiu no curto prazo de 6 meses obter 17 mil assinaturas de apoio, núimero superior ao legalmente exigido, o que significa que 1 em cada 187 galegos, 0.53% da população, assinou a iniciativa.


Em Portugal, as iniciativas legislativas populares requerem apenas 35 mil assinaturas, 0.35% da população, para poderem ser apresentadas ao Parlamento, valor significativamente inferior ao exigido na Galiza.

março 22, 2013

Caturras (quase) à pancada em noite de má língua

No passado dia 20 uma instituição universitária de Lisboa desprestigiou-se ao ceder espaço para a realização de uma "noite da má língua" anti-AO90. Como não há argumentação anti-AO que resista ao contraditório, os organizadores, conscientes das fraquezas próprias e da necessidade de repetir pela 1001ª vez mentiras 1000 vezes desmascaradas, optaram por convidar exclusivamente opositores ao AO

Sem estranheza, o Público publicou um no dia seguinte uma notícia panfletária sobre o acontecimento classificando-o como "debate" (sic).

No final desta sessão de má língua, parece que ia havendo pancada da grossa, como seria de esperar num ajuntamento de uma centena de pessoas grosseiras, carregadas de ódio, de mal com a vida, estreitas de espírito, que aproveitam o AO para descarregar os maus humores, os rancores e a negatividade que os preenche de cima a baixo.

A coisa foi tão rasca, vergonhosa e desprestigiante, que os dois ou três blogs em que militam ativistas anti-AO preferiram fingir que não souberam de nada, que não se passou nada.

Abaixo ficam imagens dos comentários de alguns leitores do Público (antes que sejam eliminados por algum caturra no Público) sobre o "debate" bem como sobre a mau jornalismo a que o Público desceu há um par de anos.



















































março 05, 2013

"O Português na Encruzilha"

Extratos de artigo publicado no Expresso a 2013mar02, da autoria de Margarita Correia (*), citado a partir do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa (link para o texto integral de artigo) .


[...]
O português encontra-se agora numa encruzilhada. À sua frente estão grosso modo dois caminhos: a via A, que poderá conduzi-lo a tornar-se, a longo prazo, em uma ou mais línguas centrais; a via B, que poderá conduzir a manter o seu estatuto de língua supercentral.

[...]
O  Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (AO) constitui um instrumento de política linguística que visa a prossecução da via B.

A ortografia não é assunto pacífico: mera norma que convenciona as regras de escrita, a ela são associados aspetos culturais, históricos, ideológicos, económicos, estéticos, etc. Outras línguas europeias passaram ou estão a passar por reformas ortográficas: o espanhol em 2010; o neerlandês em 1996 e 2006; o alemão em 1996; o francês, como nós, em 1990, aplicando-a, também como nós, só agora.

Mais que unificar a língua portuguesa, o AO visa unificar as regras de escrita, conferindo a essas regras flexibilidade suficiente para que as formas resultantes da sua aplicação respeitem a variedade falada em cada país.


O AO é aplicável e está efetivamente em uso, de forma generalizada, no Brasil e em Portugal, que criaram instrumentos reguladores com apenas ligeiras divergências entre si.




[...]
A discussão sobre o AO tem uma matriz política e ideológica e nela se confrontam as vias A e B, que constituem rostos de duas visões diametralmente opostas sobre a posição de Portugal no Mundo. Os entraves, supostamente linguísticos e técnicos, tantas vezes invocados para contrariar a aplicação do AO são sobretudo subterfúgios que visam opacificar uma discussão que se desejaria transparente.

A aplicação do AO é uma medida de política linguística e é pelos políticos que deve ser tomada, como qualquer outra reforma com efeitos sobre o Estado e as suas instituições. Desde a sua assinatura em 1990, todos os responsáveis políticos eleitos em Portugal o apoiaram explicitamente, incluindo-o várias vezes nos programas eleitorais que levaram a sufrágio.


Aos cidadãos cabe o direito a ter opiniões divergentes e a manifestá-las publicamente. Que o façam é não só possível como salutar, num estado democrático. Espera-se, no entanto, que o façam com verdade, transparência, espírito construtivo e civilidade.



(*) Sobre Margarita Correia (fonte, Ciberdúvidas da Língua Portuguesa), 
Vice-presidente do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC);
- Professora na  Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Especializada na área dos estudos do léxico,
- Coordenadora do Portal da Língua Portuguesa (ILTEC), que integra desde 2010 o Vocabulário Ortográfico do Português
Autora de:
-Denominação e Construção de Palavras (Lisboa, Colibri, 2004);
-Os Dicionários Portugueses (Lisboa, Caminho, 2009).
Coautora de:
- Inovação Lexical em Português (Lisboa, Colibri, 2005); 
- Neologia do Português (São Paulo, 2010); e,
- Um Olhar sobre a Morfologia dos Gestos (Lisboa, Universidade Católica Editora, 2011).