outubro 18, 2012

A Babbel e o pedido de um leitor


Um dos nossos fans vinha pedindo (através de três comentários não publicados e de dois emails) que nos posicionássemos face à opção da Babbel de promover cursos online de ensino da variante brasileira da nossa Língua. Segundo o ele, como se não bastasse esta “afronta”, a Babbel usa também a bandeira do Brasil como logo da opção pela Língua Portuguesa.

O conteúdo dos emails e dos comentários recebidos era ofensivo e baixo – efeitos do racismo e xenofobia subjacentes às opiniões contrárias ao AO em Portugal  – pelo que lhe respondemos que aceitaríamos o repto se o pedido fosse feito sem linguajar de troll. E não é que resultou?:








Vamos então cumprir a nossa parte do acordo:


A Babbel desenvolve software para o ensino em linha de Línguas, e no caso do Português optou pela variante brasileira da nossa Língua. Segue-se a nossa posição sobre o assunto.


1.A racionalidade da opção da Babbel

1.1 A decisão de investimento na produção de software para o ensino de uma Língua está ligada à rentabilidade que advém da procura. Tratando-se de Línguas internacionais, a Babbel opta pela variante em que deteta maior procura, o que, tendencialmente, corresponde à variante linguística que tem mais falantes e/ou maior projeção.

1.2. É de supor que seja por essa razão que, a Babbel (ainda) não ensina húngaro, nem checo, nem holandês da Flandres, nem Catalão, nem Alemão da Baviera. É de supor que também seja por essa razão que a Babbel ensina Alemão (na variante do Norte), Holandês (na variante do eixo Roterdão-Amsterdão), assim como ensina Indonésio, este sem variantes internacionais mas falado por 200 milhões de pessoas.

1.3. Pela conjugação dos dois aspetos acima – principal variante internacional e peso demográfico – a Babbel optou pelo ensino da variante brasileira da nossa Língua. Esta decisão não incomoda quem encara o Português como um grande idioma internacional que para merecer esse estatuto tem de rejeitar visões de ghetto ou de apartheid linguísticos.


2. O Brasil, a Língua Portuguesa, e a palavra “Português” associada a logos com a bandeira do Brasil

2.1. Sabemos que a projeção internacional que atualmente o Português tem se deve exclusivamente a ser uma Língua falada em oito países, em quatro continentes e, mais relevante ainda, ao facto de o Português ser a Língua do Brasil.

2.2. Ver a palavra “Português” associada a um logo com a bandeira de um dos maiores e mais importantes países do mundo só pode constituir para nós, portugueses, motivo de orgulho e satisfação. Quem assim não entende sofre de uma enfermidade mental geralmente conhecida por “nacionalismo acéfalo-histérico”.

2.3. É comum encontrar a palavra “English” sob o logo da bandeira americana, e até a palavra “Español” titulando logos com a bandeira mexicana. Não consta que ingleses ou espanhóis se sintam ofendidos ou ultrajados ou menorizados. Pelo contrário, é de supor que entendam esta opção como uma valorização da dimensão e projeção internacionais dos respetivos idiomas.

2.4. O Português não é propriedade de Portugal; nós, portugueses, somos apenas um dos coproprietários da terceira Língua ocidental mais falada no mundo, facto que implica, como em tudo o que se partilha, benefícios e cedências.


Esperamos ter satisfeito o nosso fan. Volte sempre, e não são precisas vénias nem flores nos emails, embora as notas musicais tenham sido apreciadas; basta apenas que faça um esforço para não ser grosseiro e terá os seus comentários publicados. Se puser de lado o rancor e o ódio, e se continuar a praticar a delicadeza e a cordialidade, um destes dias vai dar por si escrever, feliz, segundo as regras ortográficas em vigor. Isso de escrever em ortografia antiga é coisa de quem está de mal com a vida.

outubro 11, 2012

Serão estes os tais efeitos benéficos da ortografia etimológica clássica no desenvolvimento cultural e intelectual dos povos?

É possível que você já tenha lido ou ouvido algo sobre as supostas vantagens culturais e intelectuais que resultam da emprego de ortografias etimológicas clássicas (francês e inglês) na escolarização.

Vamos ver uma aplicação desta teoria.
Um conjunto de 100 franceses que se julgam habilitados a participar num concurso de cultura geral, tem de responder à pergunta "o que é que orbita em torno da Terra"; para os ajudar, são-lhes apresentadas quatro hipóteses de resposta, sendo que uma está correta.



Fica sempre a hipótese de que se estes adultos não tivessem sido obrigados em criança a decorar coisas como “orthographe” ou “different” talvez lhes tivesse sobrado tempo e recursos para saberem hoje o que é a Lua que gira em torno da Terra, e não o Sol..

Como foi que o Público chegou a isto?

A Sonaecom anunciou uma reestruturação no Público; destaque para o trecho seguinte do cumunicado divulgado no Público:
Com o imperativo de assegurar a sustentabilidade, sem comprometer o seu papel como referência independente de informação em Portugal, o PÚBLICO irá levar a cabo um projeto de reestruturação.
Este plano consistirá no reforço e adequação de competências, onde se inclui a maior orientação para as crescentes exigências do mundo digital, e na redução da estrutura de custos em cerca de 3,5 milhões de euros por ano, com a diminuição de custos de funcionamento e previsível saída de 48 colaboradores.

Como foi que o Público chegou a isto?

Chegou a isto, por exemplo, assim:
“As mesmas virgens jornalísticas que se horrorizaram com as facilidades concedidas a Miguel Relvas na obtenção da sua licenciatura convivem bem com um artigo de duas páginas que faz a apologia do facilitismo no ensino superior.”

Mas também chegou a isto porque, por exemplo, as mesmas virgens jornalísticas que promovem uma campanha difamatória contra o AO90 a que chamam “Debate” ficaram indignadas quando alguém lhes disse que "o ódio de Nuno Pacheco [subdiretor]ao AO90 é tão grande que o impediu de ver que a sua espanhola não tem as bases de conhecimento mínimas para publicar opiniões sobre ortografia da sua Língua numa folha paroquial domingueira, muito menos para publicar opiniões sobre a Língua de outros num jornal nacional."


Mas há mais. Significativamente, o comunicado do acionista está redigido e foi publicado no Público em ortografia atualizada, em claro contraponto com a linha editorial estabelecida pela maioria da Direção que impõe ao jornal e aos jornalistas o uso de ortografia antiga.

Este facto constitui uma forma implícita de o acionista evidenciar porque motivo a atual Direção foi incapaz de manter o Público como jornal de referência; na verdade, tal como nas questões políticas, também na questão ortográfica o Público foi transformado num pasquim dedicado à divulgação e promoção da mundovisão obtusa e das questiúnculas facciosas de uns poucos.

outubro 04, 2012

Rui M.V.Duarte: das falácias à contumácia

Rui Duarte volta a ter um lugar na campanha de difamação do AO promovida pelo subdiretor do Público, e a ocasião foi aproveitada para responder a este post do em Português Grande. Teria ficado bem a Rui Duarte a frontalidade de Nuno Pacheco que, preto no branco, disse ao que vinha e porquê quando respondeu a um post nosso através de um artigo do Público com o título “Então não é que me arranjaram uma espanhola?

Rui Duarte insiste na falácia etimológica, mas desta vez ele não cai na “asneira” de escrever que não sabe "como pôr um aluno da escola básica e secundária portuguesa a relacionar ação (ainda vá, tem um "c"), agente, agir, com ator? Ou atividade? Sem "c" nem "g"?" Não. Rui Duarte percebeu a irracionalidade do argumento, como aqui expusemos, o tal argumento que “não vale um caracol” como advertiu António Emiliano dirigindo-se aos opositores ao AO que insistem na falácia etimológica.

Em lugar disso, desta vez Rui Duarte puxa (mas pouco) pelo peso emotivo da etimologia muda numa ortografia simplificada, uma espécie de tentativa de chamar metal precioso a pechisbeque, tanto mais que as consoantes mudas eliminadas pelo AO90 foram mantidas na ortografia de 1911 por suposto valor fonético e não por razões etimológicas.
Portanto, Rui Duarte rapidamente deixa para trás a falácia etimológica e prefere aninhar-se na falácia das consoantes mudas diacríticas aproximando-se da argumentação de António Emiliano e usando expressamente como referencial a reforma ortográfica de 1945.

Como não há argumentação anti AO sem recurso a uma ou mais omissões, Rui Duarte omite as alterações à ortografia trazidas pelo Acordo Ortográfico de 1971 com o Brasil. Em consequência deste Acordo, decretado em Portugal dois anos depois da sua assinatura, o Português ficou um pouco mais fonológico. A pegada fonológica da ortografia portuguesa posterior a 1973 é, por si só, facto bastante para desmontar a falácia das consoantes mudas diacríticas.

Concretizando; se Rui Duarte acha que em Portugal se deixará de pronunciar corretamente “afetar” ou “teto” porque deixámos de escrever “afectar” ou “tecto”, então como justifica ele que pronunciemos “pregar”, “cerco”, “acordo” ou “somente”, tal e qual como se pronunciava há quarenta anos quando se escrevia “prègar”, “cêrco”,  “acôrdo” ou “sòmente”?. Genericamente: é razoável supor que a perda de consoantes mudas vá fazer agora às pronúncias portuguesas aquilo que a perda de acentos diacríticos não fez em quarenta anos?

E esta é a altura de pedir a Rui Duarte para não ter medo, como pedimos ao nosso Pedro Afonso, e aproveitar para lhe sugerir que faça o exercício que propusemos ao Pedro Afonso quando o mandámos estudar e que tanto o ajudou na compreensão do problema:
“Nas palavras seguintes, assinala as que têm pré tónica fechada, as que têm pré tónica aberta, e diz a importância que tem uma consoante muda para indicar a pronúncia correta em todas elas: bebé, actuar, caveira, vexame, especado, exactidão, tactear, pateta, dilação”.

Acreditamos que Rui Duarte compreende as falácias filológicas em que incorre, que compreende que não pode tentar demonstrar o valor de uma opinião omitindo factos que demonstram a sua falsidade, ou fazendo como um cura dos antigos que demonstrava que o Sol andava à volta da Terra recorrendo aos testemunhos dos seus fregueses, como Rui Duarte faz quando relata no seu artigo as respostas que uns amigos lhe deram. É, pois, de esperar que continue a recorrer às falácias filológicas e à negação da realidade no seu percurso de opositor ao AO90.

Só resta declarar Rui Duarte contumaz, mas apenas até ao dia em que ele abandonar as falácias filológicas e passar à argumentação ideológica contra o AO90, aquela que, de facto, tem discussão possível.