julho 18, 2012

Repor a Normatividade Violada: Voltar a Grunhir e a Urrar

“A Assembleia da República deve repor a normatividade violada, operando um autocontrolo da validade, fazendo aprovar um acto que, reconhecendo a inconstitucionalidade das normas contidas no AO e, também, na resolução parlamentar n.º 35/2008, retire eficácia a essa, autodesvinculando o Estado português” (fonte: Publico, 2012 jul 16
Estranhamente, a queixa contra o AO90, de que se extrai o trecho acima, não requer a reposição da "normatividade violada" pela reforma ortográfica de 1945. Resta saber o que a norma ortográfica de 1945 tem de tão eterno, sagrado e intangível que o AO90 ou qualquer outra de tantas atualizações da norma ortográfica da Língua Portuguesa não têm.

E porque não pedir a reposição da “normatividade violada” por Mário Sezariny que usou uma ortografia diferente da de Eça de Queiroz?

E porque não pedir a reposição da “normatividade violada” por Eça de Queiroz que usou uma ortografia diferente da de Bocage?

E porque não pedir a reposição da “normatividade violada” por Bocage que usou uma ortografia diferente da de Luis de Camões.

E porque não pedir a reposição da “normatividade violada” por Luis de Camões quando usou uma ortografia diferente da de Gil Vicente?

E porque não pedir a reposição da “normatividade violada” por Gil Vicente quando usou uma ortografia diferente da de Fernão Lopes?

E porque não pedir a reposição da “normatividade violada” por Fernão Lopes quando usou uma ortografia diferente da dos escrivães de D.Dinis?

E porque não pedir a reposição da “normatividade violada” pelos escrivães de D.Dinis que usaram uma ortografia diferente da dos trovadores galaico-portugueses?

E porque não recuar mais umas poucas centenas de anos e pedir a reposição da “normatividade violada” pelos habitantes do ocidente peninsular que, sem o saberem, de tanto violarem a normatividade do Latim Vulgar deram início à Língua que um dia seria chamada Portuguesa?

Mas não foi o Latim Vulgar a violação da normatividade anterior? Então, porque não repor a “normatividade violada” e voltar a usar o Latim Imperial? Mas o problema mantém-se porque o Latim Imperial violou a normatividade anterior, o Latim Clássico, etc, etc..

E que tal solucionar de uma vez por todas o problema que algumas pessoas têm com a evolução e com a mudança? Como? Repondo a primeira das normatividades fonéticas e "ortográficas" violadas, isto é, voltando todos a grunhir e a urrar e a gravar figuras rupestres em pedregulhos.

julho 15, 2012

"O Português levou 8 séculos a construir"

Extrato de post de Cristina Torrão no blog 2711:
Se o Português levou 8 séculos a construir, os nossos antepassados falavam uma língua incompleta, uma língua em construção, em obras. D. Dinis, Gil Vicente, Camões, Camilo, Eça... Estavam eles conscientes disso? Pode chamar-se obra-prima àquela que foi escrita numa língua em construção? Sabiam Gil Vicente e Camões que ainda tinham de passar séculos, até que o Português estivesse plenamente construído?

Esta frase, muito usada pelos oponentes do Acordo Ortográfico, é, na minha opinião, infeliz, porque encerra, em si, uma contradição. Por um lado, admite que a língua portuguesa é o resultado de uma evolução; por outro, dita o seu bloqueio. Mais: pressupõe que o Português atingiu, enfim, a sua perfeição! Com que direito? É o Português que falamos e escrevemos hoje melhor do que o que falava e escrevia Camões? É o Português que falamos e escrevemos hoje aquele que os nossos sucessores falarão e escreverão daqui a 500 anos?