agosto 30, 2012

Prossegue a Atualização Ortográfica dos Livros Escolares

O plano de atualização ortográfica dos livros escolares, atualmente em curso, terminará no ano letivo de 2014/15, disse à agência Lusa o secretário-geral da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), Miguel Freitas da Costa. 
 "O plano acordado em 2010 com o Ministério da Educação está a ser cumprido dentro dos prazos", garantiu, numa referência ao acordo negociado entre os editores e o MEC, segundo o qual os manuais escolares vão sendo atualizados ortograficamente até ao ano letivo de 2014/15, permitindo a coexistência das duas grafias.
Fonte: RTP

agosto 26, 2012

Não Tenhas Medo, Pedro


O Pedro Afonso, membro da Associação de Estudantes do IST, também teve um lugar na campanha de difamação antiAO90 que o Publico tem vindo a promover. Vai daí, o Publico publicou na 6af passada um artigo assinado pelo Pedro Afonso. Nele, o Pedro Afonso enuncia os muitos medos tem sobre o AO90.


O Pedro é um jovem, e estou certo que aceitará bem o tom pessoal e o tratamento  por “tu” que uso neste post que lhe dirijo.


Pedro, tu começas por ter medo do Acordo Ortográfico porque ele é uma medida "prepotente e antidemocrática" (sic) fixada por via legal. No entanto, não tens preocupações dessa natureza quando à ortografia que usas e que queres continuar a usar e que foi fixada por via legal em 1911 e atualizada também por via legal em 1945 e 1973, em todos os casos em momentos históricos em que as eleições eram uma farsa. Então, se não tens problema em usar e manter uma norma ortográfica fixada em ambientes políticos pouco ou nada democráticos, porque hás de ter medo de uma atualização fixada e implementada em legislaturas democráticas? Não tenhas medo, Pedro.


Pedro, tu achas que o AO90 vai fracassar porque falha o propósito de unificar o “vocabulário” (sic) e a sintaxe. Mas tens de ir ler melhor o AO90, Pedro, porque o propósito do AO90 é a uniformização da ortografia, e não do léxico nem da sintaxe. E também não deves ter dúvidas sobre a exequibilidade do propósito, basta lembrares-te que, por exemplo, o Espanhol e o Árabe têm sintaxes e léxicos mais diversificados que o Português e, no entanto, todos os países que os usam oficialmente se empenham em manter uma norma ortográfica única. Em que é que nós, portugueses e brasileiros, somos inferiores a marroquinos ou iemenitas, a espanhóis ou argentinos? Não tenhas medo, Pedro.


Pedro, tu tens medo de que portugueses deixem de perceber que os egípcios são naturais do Egito uma vez que Egito já não se escrever com ‘p’ mudo. Mas lembra-te que os portugueses já hoje percebem de onde são os vimaranenses e os cipriotas, e que estas discrepâncias dos gentílicos são raras mas aceitáveis em Português. Não tenhas medo, Pedro.


Pedro, tu AINDA (!!!) acreditas que dizíamos “recepção” com a pré tónica aberta porque estava lá um ‘p’ mudo para indicar a pronúncia correta. Mas tu não podes escrever coisas destas, Pedro, porque nos deixas com dúvidas sobre os teus hábitos de leitura, ou pelo menos sobre a atenção com que o fazes. Repara que, em Português, existem muitas palavras que têm pré tónica aberta sem o “auxílio” de uma muda, e muitas outras que têm pré tónica fechada apesar do “auxílio” de uma muda.  

E para te ajudar a ultrapassar a "Falácia das Mudas Diacríticas", aqui fica um exercício para resolveres: “Nas palavras seguintes, assinala as que têm pré tónica fechada, as que têm pré tónica aberta, e diz a importância que tem uma consoante muda para indicar a pronúncia correta em todas elas: bebé, actuar, caveira, vexame, especado, exactidão, tactear, pateta, dilação”.

Como vês, consoantes mudas não abrem (nem nunca abriram) vogais pré tónicas. Não tenhas medo, Pedro.


Pedro, tu tens medo das novas facultatividades consagradas no Português pelo AO90. Mas as facultatividades existiam, existem e existirão enquanto o Português for uma Língua viva, ficando ao critério dos falantes determinar, com o tempo, as formas que se mantêm e as que passam a obsoletas. O Latim não tem recebido facultatividades, porque está morto, mas o Português recebe, porque está vivo. Não tenhas medo, Pedro.


Pedro, tu tens medo das potenciais perdas económicas com a mudança de ortografia. Mas não tens razões para ter medo de tais coisas. Em primeiro lugar, o AO90 não constituiu uma rotura com a norma ortográfica anterior, pelo que não foi, como não é, ao contrário do que escreveste, necessário substituir livros nem reverter documentos para a ortografia atual. No que respeita a manuais escolares, eles têm vindo a ser substituídos ao ritmo normal, e foi até para atender à sua validade se estipulou um prazo de seis anos para o período de transição.

O teu medo das perdas económicas levou-te até a pensar que o AO90 pode prejudicar as exportações de edições portuguesas para o Brasil. Mas há boas notícias que te vão deixar feliz, porque está a acontecer precisamente o contrário daquilo que temias, como podes ver aqui: o AO90: da inutilidade à utilidade. Não tenhas medo, Pedro.


Pedro, tu tens medo que o AO90 tenha efeitos perniciosos sobre a pronúncia das gerações futuras. Oh Pedro, mais isso não pode ser, um homem novo com preconceitos de gente velha! A respeito dos vindouros, não te metas no que não te diz respeito. Nenhum de nós tem o direito de querer determinar as escolhas das gerações futuras, muito menos como irão pronunciar o que quer que seja. O futuro pertence a quem nele viver. A única obrigação que temos para com os mais novos é educá-los no sentido da responsabilidade e do desenvolvimento das suas capacidades intelectuais e outras. E, já agora, não lhes deixar dívidas, ao contrário do que fizeram as duas ou três gerações anteriores à tua.


E concluo com um apelo: Pedro, tu desfaz-te de preconceitos xenófobos antibrasileiros e da influência nefasta do lobby dos maus tradutores. Pensa pela tua própria cabeça, não enfies o barrete dos malsãos. Empenha-te em viver no teu tempo, não vivas agarrado ao passado, nem sequer o ortográfico. Faz justiça à tua idade, não queiras ser um homem novo com cabeça de velho. Alarga a tua visão do mundo, recusa os ghettos, linguísticos ou outros. 

E estuda, rapaz, porque se tivesses estudado, não te tinham enganado.

agosto 18, 2012

As Falácias Etimológicas de Rui Miguel Ventura Duarte

Em artigo de opinião publicado no Público de ontem, Rui Miguel Ventura Duarte, um opositor ao AO90, defende que a Língua Portuguesa vive bem sem as consoantes mudas etimológicas eliminadas unilateralmente em Portugal através da Reforma Ortográfica de 1911 (RO1911); em contrapartida, ele tem a certeza que os resquícios etimológicos mudos remanescentes da RO1911 (e que são eliminados pelo AO90), esses são imprescindíveis à inteligibilidade da Língua Portuguesa.

Esta posição é verdadeiramente insustentável atendendo às incongruências e inconsistências - ao mesmo tempo linguísticas e lógicas – que encerra.

A este respeito, é bom recordar que a RO1911 eliminou da ortografia portuguesa a grande maioria das consoantes mudas etimológicas, escapando apenas aquelas que, supostamente, tinham valor fonético. Exemplificando, o 'c’ mudo etimológico nas palavras 'construCção' ou 'oCculto' foi eliminado porque não era pronunciado, mas o 'c' mudo etimológico nas palavras 'redaCção' ou 'aCtuar' foi mantido porque se pretendeu que influenciava a pronúncia da vogal átona anterior.

Nesta circunstância, como é possível Rui Duarte considerar que as consoantes mudas que sobraram da razia simplificadora de 1911 são componentes imprescindíveis ao bom entendimento da Língua e, simultaneamente, considerar que  o grosso das consoantes mudas abandonadas e esquecidas desde há cem anos não fazem falta à mesmíssima inteligibilidade?

Exemplificando, se Rui Duarte acha que os portugueses agora não sabem o que é uma “atriz” porque deixaram de escrever “aCtriz”, como é possível ele achar que os portugueses entendem corretamente o que são "contratos", ou "aflições" ou "conjunturas", ou "ocasiões" uma vez que não escrevem "contraCtos", "afliCções", "conjunCturas" e "oCcasiões", como se fazia há cem anos?


A partir daqui é quase impossível continuar a abordar o artigo de opinião de Duarte sem lhe expor o ridículo, sem o reduzir ao absurdo.


É que Rui Duarte também está seguro que os portugueses deixarão de perceber qual o país de origem dos egipcios agora que Egito se escreve sem 'p' mudo. E tem boas razões para estar preocupado. Afinal, e pelas mesmas razões, quem sabe de onde são naturais os cipriotas ou os monegascos? (saber mais)

Mas, e ao contrário do que Rui Duarte imagina, os problemas com a simplificação ortográfica não afetam apenas os portugueses.
Os ingleses têm imensa dificuldade em perceber o verdadeiro significado da palavra 'fantastic' uma vez que a escrevem sem a transliteração tradicional da letra 'phi' do étimo grego.
De igual modo, os franceses têm dificuldade em perceber o que significam as palavras 'projet' e ‘exagerer’ porque lhes faltam, respetivamente, o 'c' e o 'g' (que seriam mudos se fossem grafados) de étimo latino.
Há ainda que considerar os problemas que alemães têm para perceber plenamente o significado da palavra ‘direktor', assim com o 'k' no lugar do 'c' etimológico porque aquele 'k' é fonético, não é etimológico, ao contrário do que alguns julgam saber.

Acontece que estes são os mais felizardos. Porque pior estão os nórdicos (finlandeses, suecos, noruegueses, dinamarqueses), e os eslavos (checos, polacos, eslovenos) e outros latinos (como os espanhóis e os romenos), todos com uma ortografia terrivelmente simplificada, ainda que um pouco menos que os italianos.

Por falar em italianos, imagine-se a projeção internacional que Verdi poderia ter atingido se tivesse escrito as suas óperas numa língua mais respeitadora da etimologia, como o francês ou inglês. E Leonardo da Vinci, esse renancentista quase desconhecido; hoje seria considerado a mais brilhante mente da humanidade não tivesse ele tido o infortúnio de ter escrito às avessas e, o que é pior, de o ter feito numa ortografia quase fonética.


Portanto, talvez Rui Duarte deva seguir o bom conselho de António Emiliano, o mais lúcido dos opositores ao AO90, que acha que o argumento etimológico contra o AO não vale um caracol, e que quem o usa se põe a jeito para ser ridicularizado ao referir a importância do pechisbeque etimológico em ortografias etimológicas simplificadas, como a portuguesa.


Nota: Este post é uma adaptação e ampliação de comentário do autor publicado no Delito de Opinião. O autor agradece a oportunidade de publicação no 'em Português Grande'.

agosto 17, 2012

"Por que estou a favor do Acordo Ortográfico"

Aqui fica uma descoberta tardia mas preciosa:


 "Por estou a favor do Acordo Ortográfico"
1º - Porque não somos donos da língua portuguesa. Existem cerca de 225 milhões de lusófonos e nós, em Portugal, somos apenas 10 milhões.
Fundámos a sociedade, mas detemos só 5 por cento das acções. Queremos mandar em quem? Esse notável instrumento de comunicação representa, a par das Descobertas, um dos nossos maiores legados para a cultura universal. Criámo-la, mas constituímos uma minoria das pessoas que a falam. Ela é já muito maior do que nós. Fernando Pessoa, cidadão da palavra, compreendeu isto quando afirmou, há um século: “A minha Pátria é a Língua Portuguesa”.
2º - Porque considero necessário e útil um instrumento regulador.
As línguas são vivas e tendem a diversificar-se em cada dia que passa. Basta pensarmos no crioulo de Cabo Verde e lembrar os escritos de Mia Couto.
As pressões de outros países sobre os PALOPs não vão deixar de crescer e hão-de ter também repercussão linguística.
Dentro em breve, com acordo ou sem ele, os livros escolares dos PALOPs serão feitos no Brasil, onde os custos de produção são mais reduzidos. As telenovelas brasileiras constituem um instrumento poderoso de divulgação da língua. Não somos suficientemente competitivos nessa área.
Quer nos agrade, quer não, se a língua portuguesa perdurar no mundo, será na versão brasileira.
3º - Porque considero melhor existir um mau acordo do que não haver nenhum e deixar a língua à solta, sem nenhum mecanismo que tente, ao menos, regulá-la. São necessárias directrizes que exerçam um papel de contenção e de estruturação nas variantes que estão a nascer espontâneamente, um pouco por toda a parte.
E, tanto quanto sei, o acordo nem é assim tão mau. Não sou linguista e mal me atrevo a meter a foice nesta seara mas, a meu ver, boa parte das alterações propostas vem apenas apressar uma evolução que iria ter naturalmente o mesmo resultado, anos mais tarde. Para que servem as consoantes mudas ou não articuladas?

Este texto foi escrito em 2010 por António Trabulo, médico neurocirurgião, escritor e historiador autodidata; o original está disponível aqui.

Sair de casa e conhecer outros lugares resulta nisto: largueza de espírito e estar de bem com um mundo que todos os dias dá uma volta sobre si mesmo.

agosto 11, 2012

Mais Opositores Modelo ao AO

Já tinha sido referido neste blog que os opositores ao AO em Portugal evidenciam geralmente duas caraterísticas: a necessidade de viver num ghetto linguístico, e/ou, o desconhecimento do conteúdo do AO.

O caso seguinte é exemplificativo da segunda das caraterísticas mencionadas.

Segundo o Correio da Manhã, Iva Domingues utilizou a sua página oficial de Facebook para fazer um desabafo, mas acabou por ser alvo de duras críticas. A apresentadora da TVI afirmou que recusa escrever segundo o novo acordo ortográfico. No entanto, mostrou-se ‘confusa' quanto às normas deste tratado. "Não, não vou seguir o acordo ortográfico! Vou continuar a dizer, morto e não matado. Pago e não pagado".

Para quem (ainda) não saiba, o AO90 não diz respeito à sintaxe, mas apenas à ortografia.

Entretanto, Iva Domingues apagou o comentário erróneo do seu mural do Facebook depois de devidamente esclarecida pelos “fans”, muitos deles compreensivelmente aborrecidos e zangados.