abril 05, 2012

Não-Notícia (3) – “Mãe Põe em Causa Aplicação do Acordo Ortográfico nas Escolas”

O Público divulgou que a mãe de uma criança de sete anos não quer que a filha aprenda a ler e escrever segundo a norma ortográfica em vigor. A partir daqui o Público faz uma "notícia" com o título "Mãe põe em causa aplicação do acordo ortográfico nas escolas em carta dirigida a Crato".

Portanto, para o Público as cartas com reclamações particulares enviadas aos ministros são notícia. É também notícia anunciar que o sistema escolar está posto em causa com base em opiniões e interpretações enviesadas da lei e da realidade comunicadas ao jornal por um qualquer cidadão.

A respeito do AO, o Público retoma o histerismo de outras não-notícias [1] [2] e empenha-se em confundir moinhos de vento com gigantes.

Se o Público estivesse disponível para difundir outras não-notícias sobre o sistema de educação com base em visões quixotescas da legalidade seria de esperar que brindasse os leitores com títulos do tipo:
- Mãe vegetariana põe em causa a legalidade das refeições com carne servidas nas cantinas escolares:
- Pai muçulmano põe em causa a legalidade das turmas mistas nas escolas;
- Primo de aluna menor fumadora põe em causa a legalidade de interdição de fumar dentro dos perímetros escolares;
- Avô membro da comunidade Pio X põe em causa a legalidade do ensino do heliocentrismo às crianças.


Há, no entanto, um dado na não-notícia do Público que, esse sim, tem toda a relevância: foram dirigidas 10 (dez) cartas ao Ministério da Educação em protesto contra a aplicação do AO no ano letivo 2011/12. A partir daqui, haveria que comparar este número (10) com o número de alunos que frequentam os sistemas de ensino básico e secundário: 1,700,000 (um milhão e setecentos mil) alunos.

O Público poderia ter aproveitado os factos, e não as opiniões, para construir uma notícia em lugar amplificar desproporcionadamente as rancorosas vozes anti AO em Portugal. Nesse caso o título seria: “É irrelevante o número de encarregados de educação que contesta a aplicação do AO no sistema de ensino”.


O ódio cega, como se comprova pela ausência de ética jornalística no Público face ao AO90.

2 comentários:

  1. Ainda não tenho opinião plenamente formada sobre o AO porque, na realidade, tenho coisas mais interessantes para fazer. De qualquer modo, já comecei a escrever conforme o AO apenas porque não me identifico com a visão arcaica da língua, com os nacionalismos e com os sectarismos dos atuais opositores. Quanto à carta em questão, será mesmo de uma "mãe" preocupada, ou apenas uma carta-fachada de um desses grupos anti-AO? É que o texto foi nitidamente escrito por um jurista, nunca por uma médica. E qual a razão de escrever na carta que é uma "médica", isso interessa para alguma coisa? Uma carta bem planeada sem dúvida, mas que não engana ninguém....

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