maio 27, 2013

Mexia Caturra

Pedro Mexia deixou no Expresso de sábado passado mais uma dose de caturrice anti-AO.

Como sem mentiras não há desacordismo, analisemos as mentiras do mais recente acesso de caturrice do Pedro Mexia.


Primeiro, o que PM disse e o que não disse:

- disse que o Brasil suspendeu o AO; falso, o Brasil não suspendeu o AO, o Brasil prolongou o prazo de implementação do AO de 2012 para 2015, e já declarou o seu alinhamento com Portugal nesta matéria;

- disse que a Faculdade de Letras não aplica o AO; mas não disse que as outras duas Faculdades de Letras o aplicam, como não disse que TODAS as instituições  universitárias, públicas e privadas, aplicam o AO;

- disse que a Ass.Portuguesa de Linguística criticou o AO; mas não disse como nem quando o fez, nem disse que a referida Associação aplica o AO;

- disse que o PEN recusou o AO; mas não disse que muitos escritores membros do PEN que votaram contra essa decisão;

- disse que a AP de Editores e Livreiros se distanciou do acordo; mas não disse como nem quando, não disse que a distância da APEL sobre o AO é tanta quanto sobre a norma anterior, não disse que a maioria dos associados da APEL aplica o AO;

- disse que a SPA não aceita o AO; mas não disse que a decisão da administração da SPA foi tomada à revelia dos seus associados, não disse que a decisão foi fundamentada em pressupostos falsos, não disse que o presidente da SPA declarou que escreve livros para crianças usando o AO, não disse que a maioria dos seus membros da SPA usa o AO;

- disse que “entretanto multiplicaram-se as reacções hostis além-Atlântico.”; mas não disse que no Brasil o AO está em plena e pacífica aplicação.
As reações de quem pontualmente no Brasil ainda desenterra o tema "AO" têm apenas dois impactos: o primeiro, nos caturras portugueses, o segundo, no ego do brasileiro que se lembrou de uma coisa que já não lembra a ninguém.


Numa coisa estamos de acordo com PM, o AO é um ato político. Mas deixamos de estar de acordo quando o PM acha que este ato político é pecaminoso, mas os atos políticos que estão na base da ortografia que ele quer continuar a usar, esses não são pecaminosos.
Na verdade, a Reforma Ortográfica de 1911, foi um ato político,  o Acordo Ortográfico luso-brasileiro de 1931 foi um ato político, o Acordo Ortográfico luso-brasileiro de 1945 (que o Brasil não aplicou, que foi elaborado na sequência do AO 1943 que Portugal não aplicou), foi um ato político, e a Reforma Ortográfica portuguesa de 1973 também foi um ato político.

Assim, fica por saber porque é que o AO1990 tem o pecado de ser um ato político, e a RO1911, o AO1931, o AO1945 e a RO1973 (que PM usa e acha perfeitos) não têm esse pecado, uma vez que, todos eles, foram também atos políticos.


PM levanta ainda a questão dos pareceres pareceres técnicos desfavoráveis ao AO. Sendo certo que foram vários, eles hoje dizem nada sobre a aplicação do AO, mas dizem muito sobre quem os emitiu. Se algum dos autores desse pareceres decidir comparar as catástrofes anunciadas com a realidade da aplicação do AO, terá apenas uma coisa a fazer: pedir desculpa.


Por fim o PM expõe-nos os seus problemas práticos com o AO:

-  ele está com um problema com o corte da raiz etimológica e da família das palavras, tudo coisas que, depreende-se, não existiam na ortografia anterior ao AO. No entanto, ele não tem problemas com as seguintes perdas etimológicas consagradas na tal (para o PM) cristalização ortográfica de 1945/73: estender (mas extensor), Estremadura (mas extremo), idade (mas etário), aquisição (mas adquirir), Chipre (mas cipriota), Guimarães (mas vimaranense), aposentado (mas pouso), erva (mas herbal), geral (mas genérico), e muitas, muitas outras. O que é que estas todas têm de tão perfeito e patrimonial que, por exemplo, o tal Egito/egípcio tem de tão imperfeito e estranho à ortografia do Português?;

- ele não sabe como há de distinguir o espetador do espetador. Desde logo ele pode escrever espectador, que estará a escrever bem. Seja como for, ele vai resolver este problema da mesma forma que resolve estes outros “problemas” consagrados na (para o PM) perfeição ortográfica de 1945/73: colher de colher, molho de molho, golo de golo, gema de gema, dita de dita, e dezenas de outras. O que é que estes “problemas” têm de tão perfeito e patrimonial que, por exemplo, o “problema” espetador/espetador tem de tão imperfeito e estranho à ortografia do Português?;

- ele ainda diz que as consoantes mudas não eram mudas. No entanto, as consoantes mudas foram sempre mudíssimas, e só ainda permaneciam na ortografia porque em 1911, entre outros disparates, alguém pretendeu que as consoantes mudas tinham voz;

-ele está com problemas em escrever os meses do ano com minúscula. Eça escreveu os meses e as estações do ano com minúscula, e outros escritores maiores da nossa Língua, também, e nenhum deles teve problemas com isso. Os falantes de francês e espanhol também se dão bem a escrever os meses e as estações do ano com minúscula. Os brasileiros também. E, em boa verdade, o único problema que nós temos é não fazer o mesmo há mais tempo:

-ele está com problemas com “arquitetas” que agora são lascivas e antes não eram; mas como tem ele lidado com as “patetas”, essas também eram/são lascivas? Ou será que o PM, para evitar problemas de lascívia com patetas, escrevia/escreve “pactectas”?

maio 24, 2013

Se a ignorância e a falta de estudo dessem equivalências…

"Considerando que o Acordo Ortográfico de 1990 não respeita a origem nem a evolução natural da Língua Portuguesa; (...)" (via Aventar)
Isto foi escrito e aprovado ontem numa assembleia de uma Associação de Estudantes universitários.

Estes estudantes não estudaram.

Se estes estudantes tivessem estudado, saberiam que o que não respeitou a origem e a evolução natural da língua portuguesa foi a carga de consoantes mudas e grafemas gregos que se começou inserir na ortografia a partir de meados do século 16.

Garcia de Resende ainda escreveu “proteitor”, aportuguesamento do latim “protector”, mais tarde adulterado por eruditismo ortográfico para “protector”. Camões ainda escreveu “aspeito”, aportuguesamento do latim “aspectu”, pouco depois adulterado por eruditismo ortográfico para “aspecto”. E porque escreveram Resende, Camões e tantos outros assim? Pelo mesmo motivo que nesse tempo (como hoje) se escrevia e pronunciava “respeito” aportuguesamento do latim “rescpectu”, ou “leitor” aportuguesamento do latim “lector”. Também nestes (e em outros) casos existiram tentativas de adulteração etimologizante e desfiguradora da ortografia e da fonética genuínas do Português, mas essas não vingaram.

É importante saber que entre as caraterísticas de formação e evolução da nossa Língua está a eliminação das sequências consonânticas herdadas do latim. As “protecções”, “redacções”, “tracções” têm ortografica e foneticamente o mesmo valor das “contractações”, “satisfacções”, “afflicções”, “addições”, e estas ninguém lembra nem sente falta. A RO1911 eliminou a generalidades dessas consoantes mudas, e só erro grosseiro algumas foram mantidas.

Se a ignorância e a falta de estudo dessem equivalências, estes estudantes tinham obtido a licenciatura ontem. Mais ou menos como estes.

Façam como o Pedro que foi estudar e já não se deixa enganar.


Também noticiado no "Publico".

maio 07, 2013

Ainda sobre a não aplicação do AO90 no sistema educativo de Angola; o testemunho de um professor angolano.

A propósito das declarações do ministro da Educação de Angola sobre a não introdução do AO no novo ano letivorecebemos o testemunho de um professor angolano cuja identidade, por motivos óbvios, protegemos:
Só o ministro da Educação [de Angola] sabe quais são as tais "implicações no sistema de ensino" que a aplicação do AO poderia ter trazido. Também só ele sabe quais são as 25 bases de um AO que tem 21 bases.
Quanto às dificuldades de transmitir a nova ortografia, será que o 'analfabeto', seja ele menor ou maior de idade, tem mais facilidade em aprender a escrever ''óptimo'' ou "actuar" do que "ótimo" ou "atuar"?
Não nos deem desculpas esfarrapadas sobre a não aplicação do AO. A recente reforma educativa poderia e deveria já ter incluído o emprego da ortografia simplificada em vez de ter mantido a ortografia velha. Isso teria facilitado o ensino da escrita e deixaria os alunos a aprender a ler e escrever na ortografia dos outros países lusófonos.
Em vez disso, a reforma educativa veio complicar uma situação que já era difícil:  um regime de mono docência sem professores preparados para esse modelo; salas com mais de 50 alunos; avaliação diária de alunos (tirando tempo para introduzir conteúdos novos); classes de transição automática sem que se perceba o objetivo.
A não introdução do AO foi apenas mais um problema a juntar aos outros que o Ministro Simão e o Ministério da Educação de Angola criaram com a reforma educativa.

maio 02, 2013

Sem mentiras não há oposição ao AO que resista, também em Angola


Segundo o Jornal de Angola, o ministro angolano da educação, Pinda Simão, justificou a não aplicação do AO no novo ano letivo apoiando-se nos seguintes argumentos:
Até o Brasil, que já estava a aplicar o acordo, disse, recuou e Portugal também questiona alguns aspectos do diploma. [...]. [H]á problemas em 20 das 25 bases do AO90″.
Fonte.

Três argumentos contra o AO, três mentiras factuais, zero surpresas.
No que respeita à aplicação do AO, nem o Brasil não recuou, nem Portugal não tem dúvidas.
Quando aos problemas nas 20 das 25 bases, lembramos, sem comentar, que o AO tem apenas 21 bases.

O triplo equívoco de Pinda Simão satisfaz quem vive de mentiras. Já se desceu ao ponto de a direita retrógrada portuguesa ter de se alimentar das migalhas que caem da mesa farta do MPLA


Pós texto: Ainda sobre a não aplicação do AO no sistema educativo de Angola: o testemunho de um professor angolano.

Obrigado !

Em abril o nosso  em Português Grande  teve um novo record de visitas, superando o record do mês anterior.

A generalidade das visitas chegam-nos através dos motores de busca mas ficamos felizes por ver aumentar a proporção de acessos diretos, aqueles que nos chegam de links colocados no facebook, na blogoesfera e em sítios eletrónicos dedicados à nossa Língua.

No caso dos motores de busca, a maioria dos acessos recai sobre as nossas páginas estáticas.

A página mais visitada do blog continua a ser "A Falácia das Consoantes Mudas Diacríticas".

Um dia pode ser que se faça a historia da vida breve deste blog, dos efeitos que teve, que provocou. Mas isso acontecerá apenas quando for o momento de dar a missão por cumprida, algo que está bem mais próximo hoje do que quando começámos.

Uma palavra especial de amizade aos nossos irmãos brasileiros que, quase sempre através de nós, percebem que o AO não é um problema em Portugal, e que os portugueses não são os tacanhos xenófogos que o desacordismo apregoa.

A todos os visitantes, ocasionais ou regulares, obrigado.

abril 18, 2013

A oposição ao AO vista pelos melhores desacordistas

Republico no nosso em Português Grande o post publicado ontem no Aventar.
A republicação tem os links alterados para os posts aqui publicados.



Embora em fase de rescaldo, o tema AO teve entre nós debate aceso. Tal deveu-se, por um lado, ao atavismo da sociedade portuguesa, bem visível na nossa história nos últimos duzentos anos. Por outro lado, nós, portugueses, temos esta propensão para a querela, como as longas discussões em torno do futebol fora das quatro linhas demonstram. Não me revendo eu no primeiro defeito, revejo-me certamente no segundo, pelo que não poderia desperdiçar a oportunidade que me foi oferecida pelo JJCardoso, que agradeço, e publicar algo sobre o tema no Aventar.


Todas – rigorosamente todas – as objeções ao AO90 já foram exaustivamente desmontadas. No entanto, sendo o desacordismo um fenómeno para-religioso, ele impede os crentes de ler fora da vulgata, pelo que tudo se resume a recitar suras desacordistas e outras coisas absurdas. O desacordismo, pela sua natureza, impede o desacordista de ler um único argumento contrário, e assim se explica porque motivo os “debates” sobre o AO promovidos por desacordistas não incluem acordistas. Os desacordistas mais facilmente batem uns nos outros do que debatem com outros.

Então, como podemos nós ultrapassar esta impossibilidade de levar luz à caverna lúgubre do desacordismo? Como vencer esta dificuldade de fazer o desacordista ler fora da sua área de conforto emocional e intelectual? Talvez pedindo ao desacordista para atender apenas à opinião de outro desacordista. É o que farei aqui.


António Emiliano, linguista, professor universitário, mostrou ser o opositor ao AO mais valoroso no debate técnico do tema. Vejamos que ele tem a dizer sobre um dos principais pilares da oposição ao AO, a questão etimológica (extrato da nota 47 do facebook de Emiliano, a 16 de abril 2012):
O problema “técnico” principal desta hedionda Base IV devoradora de letras e brasilificadora do português língua escrita não é etimológico, como clamam alguns desacordistas. […]
A matriz ortográfica greco-latina da língua portuguesa há muito que foi desfigurada por decreto (e cá continuamos, escrevendo português, de forma menos bela e adequada, mas português quand-même): invocar a dita matriz greco-latina é argumento que não vale um caracol na presente controvérsia e só serve para alimentar a imagem negativa que os acordistas gostam de dar a quem lhes faz frente.
Devastador. O citado faz notar que se reserva o direito de mudar de opinião. Mas com ou sem mudança de opinião, com ou sem signatário, filho querido ou enjeitado, este esplêndido trecho ganhou vida própria e sobrevive à vontade ou parecer do genitor, como sempre acontece à obra do operário que se transcendeu. Link.


Vasco Graça Moura, homem da cultura e de letras, foi o mais mediático dos opositores ao AO. No auge da questão, há cerca de um ano, Moura deu uma entrevista ao jornal O Globo. Vejamos o que ele tem a dizer a quem imagina que “A Língua É Nossa” ou que “Existem Duas Línguas Portuguesas”.
O Globo: Muitos opositores do acordo em Portugal dizem que a língua é dos portugueses. O que o senhor acha dessa afirmação? 
VGM: Não tem pés nem cabeça. A língua portuguesa é património de todos que a falam como língua nacional.
Lúcido. Ainda que só por uma vez. Link..


Miguel Tamen, professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, vê as coisas de outra forma. Ainda que Tamen aceite que “o AO desliga o Português da matriz greco-latina”, ao contrário de Emiliano, ou que “a Língua é nossa”, ao contrário de Moura, ele pensa que essas e outras falácias não são objeções fundamentais ao AO; para ele, a essência da questão é outra, como se pode ler numa entrevista ao i:
i: Qual é então essa sua principal objecção?
MT: Eu acho que o acordo é mau porque a ideia de lusofonia é má. Na minha opinião, tudo o que invoque a noção de lusofonia me parece deplorável.
Honesto. Tamen está mais próximo do fulcro da questão, porque o fulcro da questão da aceitação ou rejeição do AO é político; só é ortográfico na medida em que foi, como é, necessário mascarar resistências sociológicas e corporativas envergonhadas, de tão vergonhosas. Link.


Termino com a opinião de outro desacordista, João Ferreira Dias. No trecho que se segue, JFDias faz uma espécie de resumo da matéria e diz o seguinte:
Naturalmente que a nostalgia que habita em mim prefere "actor" a "ator", "acção" a "ação", por exemplo, mas também "Pharmacia" a "Farmácia". Ora, de "Pharmacia" ninguém falava, pelo simples facto de já ter caído em desuso faz tempo. Tal significa - e este ponto é importante - que a grafia portuguesa não se manteve estanque e a forma como os meus pais aprenderam a grafar algumas palavras é diferente daquela que aprendi, trinta e tal anos depois.Portanto, a razão da recusa do acordo ortográfico por parte de inúmeros cidadãos portugueses não deverá residir num apego à originalidade da língua, porque se for essa a razão estamos mal, afinal a grafia pré-acordo é já uma degeneração do português arcaico, por exemplo, porque ou muito me engano ou já ninguém escreve nos seguintes moldes:"Razoões desvairadas, que alguuns fallavam sobre o casamento delRei Dom Fernamdo".
Desta forma, só consigo vislumbrar uma razão simples para que o Acordo Ortográfico seja visto como uma abominação - o facto de ser um acordo com o Brasil. Sendo assim, o problema nada tem a ver com a grafia mas reside antes em recantos da xefonobia e do preconceito, resultantes de processos civilizacionais mal resolvidos.
Brilhante. Suspeito que, por esta altura, a maioria dos desacordistas não tenha estofo psicológico para ler na íntegra o post de onde este trecho foi extraído. Link.


É possível que, para muitos desacordistas esta tenha sido a primeira vez que tomaram conhecimento de opiniões divergentes da vulgata descordista. Se tiver sido assim, este post já valeu a pena, mesmo que não tenha demovido nenhum dos crentes.


PS - backlink no Lusofonias.

abril 11, 2013

Aplicação Plena do AO em Portugal e no Brasil


foto:Lusa

O chefe da diplomacia portuguesa disse hoje que o prazo para a aplicação plena do acordo ortográfico “tem uma diferença de seis meses” entre Brasil e Portugal e sublinhou a importância da afirmação das culturas num mundo globalizado.
“O prazo de plena implementação para o acordo tem uma diferença de seis meses entre o Brasil e Portugal. Mas, refiro, plena aplicação. Nessa matéria seguimos muito o que foi feito no chamado acordo de Brasília, haverá um encontro internacional da língua portuguesa ainda este ano”, referiu Paulo Portas durante uma conferência de imprensa conjunta no Palácio das Necessidades com o seu homólogo brasileiro, António Patriota, em visita oficial.
Continuar a ler aqui.

março 31, 2013

Iniciativa Legislativa pela Língua chega ao Parlamento


A Iniciativa Legislativa popular atingiu o número necessário de subscritores e foi entregue no Parlamento:
“[S]eis meses depois de ser apresentada ante o Parlamento da Galiza, a Comissão Promotora da Proposta de Lei por Iniciativa Legislativa Popular que leva o sobrenome do homenageado do Dia das Letras Galegas do passado ano, Valentim Paz-Andrade, formaliza a entrega das 17.000 assinaturas que asseguram a continuação da sua tramitação parlamentar. A iniciativa procura uma série de medidas que facilitem o acesso dos galegos ao universo de língua portuguesa e um maior relacionamento com a Lusofonia.

Conheça a ILP.
A ILP no facebook.

A Iniciativa Legislativa Popular galega insere-se na luta desigual dos galegos na defesa da dimensão internacional da Língua da Galiza. Entre as estratégias de valorização do Galego-Português está, naturalmente, a recusa do isolamento ortográfico através da adoção AO90, em cuja preparação participou a Academia Galega da Língua.

Na Galiza, as Iniciativas Legislativas Populares necessitam 15000 subscritores para poderem ser apreciadas e votadas no Parlamento. A ILP conseguiu no curto prazo de 6 meses obter 17 mil assinaturas de apoio, núimero superior ao legalmente exigido, o que significa que 1 em cada 187 galegos, 0.53% da população, assinou a iniciativa.


Em Portugal, as iniciativas legislativas populares requerem apenas 35 mil assinaturas, 0.35% da população, para poderem ser apresentadas ao Parlamento, valor significativamente inferior ao exigido na Galiza.

março 22, 2013

Caturras (quase) à pancada em noite de má língua

No passado dia 20 uma instituição universitária de Lisboa desprestigiou-se ao ceder espaço para a realização de uma "noite da má língua" anti-AO90. Como não há argumentação anti-AO que resista ao contraditório, os organizadores, conscientes das fraquezas próprias e da necessidade de repetir pela 1001ª vez mentiras 1000 vezes desmascaradas, optaram por convidar exclusivamente opositores ao AO

Sem estranheza, o Público publicou um no dia seguinte uma notícia panfletária sobre o acontecimento classificando-o como "debate" (sic).

No final desta sessão de má língua, parece que ia havendo pancada da grossa, como seria de esperar num ajuntamento de uma centena de pessoas grosseiras, carregadas de ódio, de mal com a vida, estreitas de espírito, que aproveitam o AO para descarregar os maus humores, os rancores e a negatividade que os preenche de cima a baixo.

A coisa foi tão rasca, vergonhosa e desprestigiante, que os dois ou três blogs em que militam ativistas anti-AO preferiram fingir que não souberam de nada, que não se passou nada.

Abaixo ficam imagens dos comentários de alguns leitores do Público (antes que sejam eliminados por algum caturra no Público) sobre o "debate" bem como sobre a mau jornalismo a que o Público desceu há um par de anos.



















































março 05, 2013

"O Português na Encruzilha"

Extratos de artigo publicado no Expresso a 2013mar02, da autoria de Margarita Correia (*), citado a partir do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa (link para o texto integral de artigo) .


[...]
O português encontra-se agora numa encruzilhada. À sua frente estão grosso modo dois caminhos: a via A, que poderá conduzi-lo a tornar-se, a longo prazo, em uma ou mais línguas centrais; a via B, que poderá conduzir a manter o seu estatuto de língua supercentral.

[...]
O  Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (AO) constitui um instrumento de política linguística que visa a prossecução da via B.

A ortografia não é assunto pacífico: mera norma que convenciona as regras de escrita, a ela são associados aspetos culturais, históricos, ideológicos, económicos, estéticos, etc. Outras línguas europeias passaram ou estão a passar por reformas ortográficas: o espanhol em 2010; o neerlandês em 1996 e 2006; o alemão em 1996; o francês, como nós, em 1990, aplicando-a, também como nós, só agora.

Mais que unificar a língua portuguesa, o AO visa unificar as regras de escrita, conferindo a essas regras flexibilidade suficiente para que as formas resultantes da sua aplicação respeitem a variedade falada em cada país.


O AO é aplicável e está efetivamente em uso, de forma generalizada, no Brasil e em Portugal, que criaram instrumentos reguladores com apenas ligeiras divergências entre si.




[...]
A discussão sobre o AO tem uma matriz política e ideológica e nela se confrontam as vias A e B, que constituem rostos de duas visões diametralmente opostas sobre a posição de Portugal no Mundo. Os entraves, supostamente linguísticos e técnicos, tantas vezes invocados para contrariar a aplicação do AO são sobretudo subterfúgios que visam opacificar uma discussão que se desejaria transparente.

A aplicação do AO é uma medida de política linguística e é pelos políticos que deve ser tomada, como qualquer outra reforma com efeitos sobre o Estado e as suas instituições. Desde a sua assinatura em 1990, todos os responsáveis políticos eleitos em Portugal o apoiaram explicitamente, incluindo-o várias vezes nos programas eleitorais que levaram a sufrágio.


Aos cidadãos cabe o direito a ter opiniões divergentes e a manifestá-las publicamente. Que o façam é não só possível como salutar, num estado democrático. Espera-se, no entanto, que o façam com verdade, transparência, espírito construtivo e civilidade.



(*) Sobre Margarita Correia (fonte, Ciberdúvidas da Língua Portuguesa), 
Vice-presidente do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC);
- Professora na  Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Especializada na área dos estudos do léxico,
- Coordenadora do Portal da Língua Portuguesa (ILTEC), que integra desde 2010 o Vocabulário Ortográfico do Português
Autora de:
-Denominação e Construção de Palavras (Lisboa, Colibri, 2004);
-Os Dicionários Portugueses (Lisboa, Caminho, 2009).
Coautora de:
- Inovação Lexical em Português (Lisboa, Colibri, 2005); 
- Neologia do Português (São Paulo, 2010); e,
- Um Olhar sobre a Morfologia dos Gestos (Lisboa, Universidade Católica Editora, 2011).