agosto 17, 2012

"Por que estou a favor do Acordo Ortográfico"

Aqui fica uma descoberta tardia mas preciosa:


 "Por estou a favor do Acordo Ortográfico"
1º - Porque não somos donos da língua portuguesa. Existem cerca de 225 milhões de lusófonos e nós, em Portugal, somos apenas 10 milhões.
Fundámos a sociedade, mas detemos só 5 por cento das acções. Queremos mandar em quem? Esse notável instrumento de comunicação representa, a par das Descobertas, um dos nossos maiores legados para a cultura universal. Criámo-la, mas constituímos uma minoria das pessoas que a falam. Ela é já muito maior do que nós. Fernando Pessoa, cidadão da palavra, compreendeu isto quando afirmou, há um século: “A minha Pátria é a Língua Portuguesa”.
2º - Porque considero necessário e útil um instrumento regulador.
As línguas são vivas e tendem a diversificar-se em cada dia que passa. Basta pensarmos no crioulo de Cabo Verde e lembrar os escritos de Mia Couto.
As pressões de outros países sobre os PALOPs não vão deixar de crescer e hão-de ter também repercussão linguística.
Dentro em breve, com acordo ou sem ele, os livros escolares dos PALOPs serão feitos no Brasil, onde os custos de produção são mais reduzidos. As telenovelas brasileiras constituem um instrumento poderoso de divulgação da língua. Não somos suficientemente competitivos nessa área.
Quer nos agrade, quer não, se a língua portuguesa perdurar no mundo, será na versão brasileira.
3º - Porque considero melhor existir um mau acordo do que não haver nenhum e deixar a língua à solta, sem nenhum mecanismo que tente, ao menos, regulá-la. São necessárias directrizes que exerçam um papel de contenção e de estruturação nas variantes que estão a nascer espontâneamente, um pouco por toda a parte.
E, tanto quanto sei, o acordo nem é assim tão mau. Não sou linguista e mal me atrevo a meter a foice nesta seara mas, a meu ver, boa parte das alterações propostas vem apenas apressar uma evolução que iria ter naturalmente o mesmo resultado, anos mais tarde. Para que servem as consoantes mudas ou não articuladas?

Este texto foi escrito em 2010 por António Trabulo, médico neurocirurgião, escritor e historiador autodidata; o original está disponível aqui.

Sair de casa e conhecer outros lugares resulta nisto: largueza de espírito e estar de bem com um mundo que todos os dias dá uma volta sobre si mesmo.

3 comentários:

  1. Deixem as línguas diversificarem-se, é assim que a coisa corre. Não, não quero mandar em ninguém e, por maioria de razão, não quero impor o português que falo aos outros países que, a pouco e pouco deixarão de falar português. E sim, sou absolutamente contra essa "coisa" que defende. Por muitas e variadas razões que não cabem num comentário destes. Quanto à desactualização da ortografia, depende de quem vê, não é?

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    1. Olá, M.João

      Não tenho nada contra a diversificação das línguas, mas é bom ter presente que no mundo em que a comunicação é um fenómeno global, as línguas teem dinâmicas de convergência.
      E é assim que os dialetos se desvanecem e os falantes das línguas internacionais têm tendência para nivelar usos diferentes da mesma língua como forma de todos se entenderem mais facilmente e tirar benefícios económicos da partilha de informação na língua comum.

      De resto, por aqui as opiniões discordantes são bem vindas. A única coisa que não se aceita nem se publica são comentários com conteúdo rancoroso ou panfletário.

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  2. Se é para todos se entenderem, então comecemos todos a falar inglês. Já faltou mais, mas felizmente não será no meu tempo...
    Quanto ao texto, tenho lido por aí diversos argumentos a favor do acordo, uns melhores que outros e confesso que ainda não foi desta que mudei de opinião em relação ao assunto. Ou seja, com todo o respeito, parecem-me argumentos fracos...

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