janeiro 22, 2012

Óscar Mascarenhas em Português Grande


Extratos da coluna do Provedor do Leitor do Diário de Notícias, Óscar Mascarenhas, publicada a 21 de Janeiro de 2012 (link):
"Mosquitos por cordas. De entre as mais patuscas expressões da coloquialidade portuguesa, esta é a que melhor descreve, a meu ver, a nova querela dos universais em que está envolvida a nata dos bem-pensantes do burgo: o Acordo (ou desacordo) Ortográfico.
Uma cena com "tantos ferros, tantos golpes, tanto sangue a espadanar", como não havia desde a Tomada de Lisboa no livro da (minha) terceira classe e de cujo autor se guardou tão recatado quão misterioso silêncio em matéria de identidade - havia de sobrar para mim.
[...]
[N]ão me venham com fidelidades às nossas professoras porque há muito que as traímos - eu sempre a contragosto - quando aceitámos uma outra reforma ortográfica, que veio de pantufas não sei quando e nos mandou deixar para trás o critério fonético da ortografia, partindo do princípio que "toda gente" sabe pronunciar as palavras, pelo que não é preciso estar com muitos rigores. [*] Essa sim, foi a reforma que desfigurou a nossa ortografia - mas onde estavam os que deviam protestar e me deixaram (ainda hoje) vox clamantis in deserto?
O atual Acordo segue a mesma lógica do outro - o de pantufas - só que é mais fonético, por assim dizer, escrevendo-se as palavras como são pronunciadas. A escrita fica por vezes parecida com a dos Patos Donalds da nossa infância? Que mal tem? Até dá saudades, bem vistas as coisas.
Não creio que se possa falar em descaracterização da língua: as palavras são as mesmas, a construção não foi alterada, o instrumento de raciocínio e de comunicação está intacto. É apenas uma convenção sobre a forma."

[*] Nota do blog: o autor refere-se por certo às reformas ortográficas de 1945 e 1973.

Mais opinião publicada.

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