O presidente da Câmara Municipal da Covilhã emitiu um despacho que suspende a aplicação do AO nos organismos municipais e estipula que a ortografia atualizada só será aplicada em 2015 quando terminar o período transitório. Até lá, os documentos do município e entidades agregadas serão redigidos na ortografia antiga. O texto do despacho está disponível neste momento no sítio eletrónico da CMCovilhã.
Existem dois pontos relevantes no despacho do presidente da CMCovilhã:
“[L]argos sectores da sociedade portuguesa têm vindo a questionar o método e a substância deste Acordo, na vertente da sua relação com a realidade ortográfica presente e com a falta de consenso nacional sobre esta matéria”.O comunicado não concretiza que setores nacionais são esses, mas poderia porque eles são conhecidos. Por um lado, são os setores mais xenófobos da sociedade portuguesa; por outro, são os setores mais antilusófonos; e por último, o lobby antibrasileiro dos maus tradutores portugueses. Quanto à classificação “largos”, no sentido de numerosos, essa é impossível demonstrar.
“[Constata-se] uma falta de unidade na expressão estética em língua portuguesa que, no caso em apreço, é portador de um correlativo desprestígio institucional.”O que significa “falta de unidade na expressão estética”? Insubstatividade frásica à parte, a que “estética” se refere o despacho do presidente da Câmara e quem são os estetas? Será que o presidente da CMCovilhã impede o uso da ortografia atualizada da Língua Portuguesa porque prefere uma ortografia com uma estética mais arcaica ou, quem sabe, mais lyoncificada?
E onde está o referido “desprestígio institucional” que não seja precisamente aquele que resulta da decisão do presidente da Câmara da Covilhã de proibir a aplicação da ortografia da Língua Portuguesa em pleno uso no Estado, na generalidade dos órgãos de comunicação social, em todos os graus e estabelecimentos de ensino público e privado, nos jornais oficiais de Portugal e da União Europeia, em partidos políticos como o PSD, PS e BE, na Igreja Católica, em todos os municípios portugueses, na Associação Nacional dos Municípios Portugueses, na Associação Nacional de Freguesias, no Fórum das Autoridades Locais da CPLP e que foi ratificada por todos os países lusófonos, com a exceção (por agora) de Angola?
Como se constata, nem sempre o atraso e o isolamento do interior são estruturais; também podem ser decretados por despacho municipal.
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Diário As Beiras: Município da Covilhã e entidades agregadas não vão usar o novo acordo ortográfico;
CNotícas.net: Camara não adota acordo ortográfico;
Texto do despacho, conforme captura às 18:40 de hoje.
"Nos termos do Aviso n.º 255/2010, de 13 de Setembro, publicado no Diário da República, 1ª série, de 17 de Setembro de 2010, o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa já se encontra em vigor na ordem jurídica desde 13 de Maio de 2009.
Contudo, a Resolução da Assembleia
da República n.º 35/2008, de 29 de Julho, que aprovou o Acordo Ortográfico,
prevê um prazo transitório de seis anos para a implementação da nova grafia, ou
seja, decorre até 2015 um período de transição durante o qual ainda se pode
utilizar a grafia actual.
Entretanto, largos sectores da
sociedade portuguesa têm vindo a questionar o método e a substância deste
Acordo, na vertente da sua relação com a realidade ortográfica presente e com a
falta de consenso nacional sobre esta matéria, constatando-se deste modo, uma
falta de unidade na expressão estética em língua portuguesa que, no caso em
apreço, é portador de um correlativo desprestígio institucional.
Nestes termos, por despacho de hoje,
15 de Junho, o Presidente da Câmara da Covilhã determinou que em toda a
correspondência oficial da Autarquia e das entidades agregadas, não seja
adoptado o novo Acordo Ortográfico, nos termos do período transitório
estabelecido, reponderando-se esta determinação no final daquele período, isto
é, em 2015."
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