junho 16, 2013

Tiros no Pé.

Tivemos a noticia anteontem que António de Macedo tinha publicado no Publico um artigo difamatório do AO.

Estranhamente, o artigo não foi divulgado na blogosfera caturra, o que se percebe, a avaliar pelos tiros no pé e pelas inconsistências que contém.


António de Macedo começa por renegar o valor da classicismo etimológico na medida em que o período clássico da ortografia portuguesa  “se caracterizou por um pedantismo renascentista e depois iluminista, de influência francesa, adoptando uma escrita que procurava reproduzir as transliterações latinas de palavras gregas, sobretudo em certos termos eruditos ou mitológicos, como “philosophia”, “theologia”, “chimera”, “symmetria”, etc.” .

Esta asserção desmancha um dos pilares do desacordismo - a relevância do valor etimológico das consoantes mudas - pelo que, para nós, este extrato já ganhou um lugar na nossa galeria dos melhores trechos desacordistas.


A partir desta perspectiva, António de Macedo perde-se em inconsistências insustentáveis, tanto assim que resolveu ir buscar Camões. Ora, não é por acaso que os desacordistas capacitados não trazem Camões para o debate sobre o AO, como vamos ver.

Macedo resolveu dizer - e com toda a razão - que já é possível observar n'Os Lusíadas a descaraterização ortográfica imposta pelo etimologização forçada iniciada na segunda metade do séc.16.

Para demonstrar o seu argumento, António de Macedo apresenta alguns exemplos retirados daquele poema épico. Assim, ele aponta “«ninfas», «profeta», «cristalino», «fantasia», «Olimpo», etc., palavras que na posterior fase cultista passaram a escrever-se «nymphas», «propheta», «crystallino», «phantasia», «Olympo» “,  se bem que Camões também tenha usado /nimphas/ e /propheta/ nos Lusíadas, acrescentamos nós.

Acontece que há outra questão que fica por tratar. Repare-se que Macedo omitiu os casos seguintes (entre vários outros possíveis):
- /corruto/, assim pronunciado ao tempo, e que Camões usou a par de /corrupto/, aqui por cedência etimológica;
- /someter/ que Camões usou sempre, porque ao tempo o /b/ etimológico de /submeter/ era mudo e, por isso mesmo, não era usado na ortografia;
 - /aspeito/ que Camões usou sempre em lugar de /aspecto/; esta é uma das aberrações etimologizantes introduzidas ainda no séc.16 e que veio a deformar não só a ortografia da palavra mas também a realização fonética do portuguesíssimo /aspeito/;
- /Antartico/ que Camões escreveu como nós escrevemos hoje em Português (sem /c/ etimológico mudo); na ortografia anterior ao AO90 escrevia-se /AntárCtico/.

Se António de Macedo tivesse trazido também estes exemplos, ele teria concluído algo que há muito estudado: uma das características fundamentais da diferenciação e da evolução do Português é a eliminação da generalidade das sequências consonânticas herdadas do Latim.
Portanto, a introdução a partir de meados do séc.16 de consoantes mudas e a sua fixação na ortografia por "pedantismo erudito" (sic) foi um mau serviço prestado à Língua Portuguesa, que lhe desfigurou a ortografia, e, em alguns casos, veio a desfigurar também a fonética.

O código genético do Português opõe-se às teses desacordistas, coisa que os desacordistas conhecedores da evolução da ortografia do Português sabem, de tal modo que não trazem para o debate a ortografia e pronúncia do séc.16, uma e outra ainda não descaraterizadas pela introdução de consoantes etimológicas mudas.

Resta ainda uma incongruência lógica: todas – rigorosamente todas – as consoantes mudas que escaparam à simplificação ortográfica de 1911 e que foram eliminadas pelo AO90, entraram na ortografia do Português em resultado do tal “pedantismo renascentista e depois iluminista, de influência francesa” (sic), como Macedo muito bem refere e rejeita por ser nefasto à ortografia.

Sendo assim, por que motivo achará Macedo que o uso de /c/ mudo em /accesso/ ou em /victoria/ ou em /occupar/ é um pedantismo ultrapassado, e o uso de /c/ mudo em /actuar/ ou em /exactidão/ ou em /Árctico/ é uma necessidade ortográfica?

O desacordismo não sobrevive ao estudo.
O desacordismo só é sustentável à luz de motivações políticas de Velhos do Restelo.

Sobre as sequências consonânticas no nosso idioma:
"Se a ignorância e a falta de estudo dessem dessem equivalências..."
"Samsung aderiu às vantagens do Português"

junho 11, 2013

"Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (AOLP) entrará definitivamente em vigor em Portugal e no Brasil em maio e em dezembro de 2015, respetivamente"

No âmbito da visita oficial da Presidente Dilma Rousseff ao nosso país:
"Portugal e Brasil acolheram, esta segunda-feira, com «satisfação» os contactos no quadro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para a elaboração dos Vocabulários Ortográficos Nacionais e reafirmaram que o acordo ortográfico entra em vigor em 2015, nos dois países. 
«Tendo em conta que o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (AOLP) entrará definitivamente em vigor em Portugal e no Brasil em maio e em dezembro de 2015, respetivamente, ambos os governantes reiteraram a importância da plena aplicação do AOLP em todos os países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), como forma de contribuir para o reforço da internacionalização da língua portuguesa», refere a Declaração Conjunta da XI Portugal-Brasil que decorreu esta segunda-feira em Lisboa, entre o primeiro-ministro  Pedro Passos Coelho e a chefe de Estado brasileira, Dilma Rousseff. 
«Os dois mandatários acolheram, com satisfação, os entendimentos mantidos no âmbito da CPLP com vista à elaboração dos Vocabulários Ortográficos Nacionais e a ulterior elaboração a partir destes, de um Vocabulário Ortográfico Comum, que consolidará, tanto o léxico comum como as especificidades de cada país», refere a nota, citada pela Lusa.
Esta solução irá contribuir assim para «a implementação, entre outros instrumentos de corretores ortográficos, tradutores eletrónicos e sintetizadores de voz, bem como das bases terminológicas, técnicas e científicas estipuladas pelo Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa». 
Os dois governantes congratularam-se ainda pela realização em Lisboa, no próximo mês de outubro, da II Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial e que segundo as duas partes vai permitir dar continuidade à reflexão sobre as políticas concertadas sobre o português «em todas as suas dimensões, designadamente, como língua de inovação e ciência». 
Dilma Rousseff e Passos Coelho reuniram-se esta segunda-feira durante uma hora e meia na residência oficial do primeiro-ministro português em São Bento, Lisboa, no quadro da visita de Estado da presidente brasileira a Portugal."

Fonte: TVI24.

maio 28, 2013

Frango

O juiz Rui Teixeira é um homem prestigiado e prestigiante, basta lembrar a forma como conduziu o famoso “processo Casa Pia”.

Mas, como diz o povo, não há bela sem senão.

Recorremos a esta notícia no DN online citando esta outra notícia publicada na edição em papel do Correia da Manhã de domingo.


Primeira questão:
"O magistrado enviou uma nota à Direção Geral de Reinserção Social (DGRS) em abril onde se podia ler, que esta "'fica advertida que deverá apresentar as peças em Língua Portuguesa e sem erros ortográficos decorrentes da aplicação da Resolução do Conselho de Ministros 8/2011 (...) a qual apenas vincula o Governo e não os tribunais'".
Ora, a DGRS está vinculada ao poder executivo e não ao poder judicial, portanto tem por obrigação cumprir as determinações legais em vigor emanadas pela Tutela, naquilo que ao poder executivo respeita, como é o caso dos usos ortográficos. De resto, nenhum juiz deve, muito menos pode, pretender obrigar as entidades públicas, privadas ou os cidadãos a dirigirem-se aos seus juízos segundo a norma ortográfica da preferência do juiz, quer o juiz prefira a norma ortográfica atual ou a anterior. O sistema judicial e os juízes servem para outros fins.


Segunda questão; voltamos a transcrever o DN:
“nos tribunais, pelo menos neste, os factos não são fatos, as actas não são uma forma do verbo atar, os cágados continuam a ser animais e não algo malcheiroso”
Pois há boas notícias para Rui Teixeira: nos termos do AO90, os factos também não são fatos (embora, segundo as caraterísticas evolutivas do Português, esse seja o seu destino), e os cágados também continuam a ser animais e não algo mal cheiroso.

Quanto à ata/ata; Rui Teixeira é um homem inteligente e vai ser capaz de resolver esta questão tão bem como resolveu sempre estas outras (todas elas existentes tanto na ortografia atual como na ortografia anterior): colher/colher, cor/cor, pena/pena, pregar/pregar, rota/rota, seca/seca, seco/seco, sede/sede, sumo/sumo, acordo/acordo, almoço/almoço, anular/anular, chama/chama, consolo/consolo, dita/dita, erro/erro, fora/fora, força/força, gelo/gelo, gema/gema, golo/golo, jogo/jogo, molho/molho, pela/pela, pelo/pelo, serão/serão, torre/torre, vale/vale, vela/vela/vela.

Se para os defensores da cristalização ortográfica de 1945/73 os casos acima são imutáveis e perfeitos, então o par ata/ata tem tudo para ser integrado e bem aceite na tal imutável perfeição.


Terceira questão; voltamos a citar a carta do juiz Rui Teixeira dirigida à DGRS, segundo o DN:
“[A] Língua Portuguesa permanece inalterada até ordem em contrário'”
Pois aqui temos más notícias para Rui Teixeira mas boas notícias para a nossa Língua: a Língua Portuguesa está viva, portanto ela altera-se e evolui diariamente sem obedecer a nada nem atender a ordens de ninguém. De quando em quando a ortografia deve ser atualizada para que possa acompanhar a evolução da Língua. Foi também isso o que o AO90 veio fazer.


Este caso lembra este outro: todos os melhores guarda-redes - sem exceção - deram em algum momento das suas carreiras grandes "frangos", e nem por isso nunca nenhum deles viu o seu prestígio diminuído na história do futebol.
Independentemente de Rui Teixeira insistir nesta caturrice ou se esquecer dela depressa, este juiz vai continuar a ser uma referência maior para os portugueses e para a Justiça em Portugal.

maio 27, 2013

Mexia Caturra

Pedro Mexia deixou no Expresso de sábado passado mais uma dose de caturrice anti-AO.

Como sem mentiras não há desacordismo, analisemos as mentiras do mais recente acesso de caturrice do Pedro Mexia.


Primeiro, o que PM disse e o que não disse:

- disse que o Brasil suspendeu o AO; falso, o Brasil não suspendeu o AO, o Brasil prolongou o prazo de implementação do AO de 2012 para 2015, e já declarou o seu alinhamento com Portugal nesta matéria;

- disse que a Faculdade de Letras não aplica o AO; mas não disse que as outras duas Faculdades de Letras o aplicam, como não disse que TODAS as instituições  universitárias, públicas e privadas, aplicam o AO;

- disse que a Ass.Portuguesa de Linguística criticou o AO; mas não disse como nem quando o fez, nem disse que a referida Associação aplica o AO;

- disse que o PEN recusou o AO; mas não disse que muitos escritores membros do PEN que votaram contra essa decisão;

- disse que a AP de Editores e Livreiros se distanciou do acordo; mas não disse como nem quando, não disse que a distância da APEL sobre o AO é tanta quanto sobre a norma anterior, não disse que a maioria dos associados da APEL aplica o AO;

- disse que a SPA não aceita o AO; mas não disse que a decisão da administração da SPA foi tomada à revelia dos seus associados, não disse que a decisão foi fundamentada em pressupostos falsos, não disse que o presidente da SPA declarou que escreve livros para crianças usando o AO, não disse que a maioria dos seus membros da SPA usa o AO;

- disse que “entretanto multiplicaram-se as reacções hostis além-Atlântico.”; mas não disse que no Brasil o AO está em plena e pacífica aplicação.
As reações de quem pontualmente no Brasil ainda desenterra o tema "AO" têm apenas dois impactos: o primeiro, nos caturras portugueses, o segundo, no ego do brasileiro que se lembrou de uma coisa que já não lembra a ninguém.


Numa coisa estamos de acordo com PM, o AO é um ato político. Mas deixamos de estar de acordo quando o PM acha que este ato político é pecaminoso, mas os atos políticos que estão na base da ortografia que ele quer continuar a usar, esses não são pecaminosos.
Na verdade, a Reforma Ortográfica de 1911, foi um ato político,  o Acordo Ortográfico luso-brasileiro de 1931 foi um ato político, o Acordo Ortográfico luso-brasileiro de 1945 (que o Brasil não aplicou, que foi elaborado na sequência do AO 1943 que Portugal não aplicou), foi um ato político, e a Reforma Ortográfica portuguesa de 1973 também foi um ato político.

Assim, fica por saber porque é que o AO1990 tem o pecado de ser um ato político, e a RO1911, o AO1931, o AO1945 e a RO1973 (que PM usa e acha perfeitos) não têm esse pecado, uma vez que, todos eles, foram também atos políticos.


PM levanta ainda a questão dos pareceres pareceres técnicos desfavoráveis ao AO. Sendo certo que foram vários, eles hoje dizem nada sobre a aplicação do AO, mas dizem muito sobre quem os emitiu. Se algum dos autores desse pareceres decidir comparar as catástrofes anunciadas com a realidade da aplicação do AO, terá apenas uma coisa a fazer: pedir desculpa.


Por fim o PM expõe-nos os seus problemas práticos com o AO:

-  ele está com um problema com o corte da raiz etimológica e da família das palavras, tudo coisas que, depreende-se, não existiam na ortografia anterior ao AO. No entanto, ele não tem problemas com as seguintes perdas etimológicas consagradas na tal (para o PM) cristalização ortográfica de 1945/73: estender (mas extensor), Estremadura (mas extremo), idade (mas etário), aquisição (mas adquirir), Chipre (mas cipriota), Guimarães (mas vimaranense), aposentado (mas pouso), erva (mas herbal), geral (mas genérico), e muitas, muitas outras. O que é que estas todas têm de tão perfeito e patrimonial que, por exemplo, o tal Egito/egípcio tem de tão imperfeito e estranho à ortografia do Português?;

- ele não sabe como há de distinguir o espetador do espetador. Desde logo ele pode escrever espectador, que estará a escrever bem. Seja como for, ele vai resolver este problema da mesma forma que resolve estes outros “problemas” consagrados na (para o PM) perfeição ortográfica de 1945/73: colher de colher, molho de molho, golo de golo, gema de gema, dita de dita, e dezenas de outras. O que é que estes “problemas” têm de tão perfeito e patrimonial que, por exemplo, o “problema” espetador/espetador tem de tão imperfeito e estranho à ortografia do Português?;

- ele ainda diz que as consoantes mudas não eram mudas. No entanto, as consoantes mudas foram sempre mudíssimas, e só ainda permaneciam na ortografia porque em 1911, entre outros disparates, alguém pretendeu que as consoantes mudas tinham voz;

-ele está com problemas em escrever os meses do ano com minúscula. Eça escreveu os meses e as estações do ano com minúscula, e outros escritores maiores da nossa Língua, também, e nenhum deles teve problemas com isso. Os falantes de francês e espanhol também se dão bem a escrever os meses e as estações do ano com minúscula. Os brasileiros também. E, em boa verdade, o único problema que nós temos é não fazer o mesmo há mais tempo:

-ele está com problemas com “arquitetas” que agora são lascivas e antes não eram; mas como tem ele lidado com as “patetas”, essas também eram/são lascivas? Ou será que o PM, para evitar problemas de lascívia com patetas, escrevia/escreve “pactectas”?

maio 24, 2013

Se a ignorância e a falta de estudo dessem equivalências…

"Considerando que o Acordo Ortográfico de 1990 não respeita a origem nem a evolução natural da Língua Portuguesa; (...)" (via Aventar)
Isto foi escrito e aprovado ontem numa assembleia de uma Associação de Estudantes universitários.

Estes estudantes não estudaram.

Se estes estudantes tivessem estudado, saberiam que o que não respeitou a origem e a evolução natural da língua portuguesa foi a carga de consoantes mudas e grafemas gregos que se começou inserir na ortografia a partir de meados do século 16.

Garcia de Resende ainda escreveu “proteitor”, aportuguesamento do latim “protector”, mais tarde adulterado por eruditismo ortográfico para “protector”. Camões ainda escreveu “aspeito”, aportuguesamento do latim “aspectu”, pouco depois adulterado por eruditismo ortográfico para “aspecto”. E porque escreveram Resende, Camões e tantos outros assim? Pelo mesmo motivo que nesse tempo (como hoje) se escrevia e pronunciava “respeito” aportuguesamento do latim “rescpectu”, ou “leitor” aportuguesamento do latim “lector”. Também nestes (e em outros) casos existiram tentativas de adulteração etimologizante e desfiguradora da ortografia e da fonética genuínas do Português, mas essas não vingaram.

É importante saber que entre as caraterísticas de formação e evolução da nossa Língua está a eliminação das sequências consonânticas herdadas do latim. As “protecções”, “redacções”, “tracções” têm ortografica e foneticamente o mesmo valor das “contractações”, “satisfacções”, “afflicções”, “addições”, e estas ninguém lembra nem sente falta. A RO1911 eliminou a generalidades dessas consoantes mudas, e só erro grosseiro algumas foram mantidas.

Se a ignorância e a falta de estudo dessem equivalências, estes estudantes tinham obtido a licenciatura ontem. Mais ou menos como estes.

Façam como o Pedro que foi estudar e já não se deixa enganar.


Também noticiado no "Publico".

maio 07, 2013

Ainda sobre a não aplicação do AO90 no sistema educativo de Angola; o testemunho de um professor angolano.

A propósito das declarações do ministro da Educação de Angola sobre a não introdução do AO no novo ano letivorecebemos o testemunho de um professor angolano cuja identidade, por motivos óbvios, protegemos:
Só o ministro da Educação [de Angola] sabe quais são as tais "implicações no sistema de ensino" que a aplicação do AO poderia ter trazido. Também só ele sabe quais são as 25 bases de um AO que tem 21 bases.
Quanto às dificuldades de transmitir a nova ortografia, será que o 'analfabeto', seja ele menor ou maior de idade, tem mais facilidade em aprender a escrever ''óptimo'' ou "actuar" do que "ótimo" ou "atuar"?
Não nos deem desculpas esfarrapadas sobre a não aplicação do AO. A recente reforma educativa poderia e deveria já ter incluído o emprego da ortografia simplificada em vez de ter mantido a ortografia velha. Isso teria facilitado o ensino da escrita e deixaria os alunos a aprender a ler e escrever na ortografia dos outros países lusófonos.
Em vez disso, a reforma educativa veio complicar uma situação que já era difícil:  um regime de mono docência sem professores preparados para esse modelo; salas com mais de 50 alunos; avaliação diária de alunos (tirando tempo para introduzir conteúdos novos); classes de transição automática sem que se perceba o objetivo.
A não introdução do AO foi apenas mais um problema a juntar aos outros que o Ministro Simão e o Ministério da Educação de Angola criaram com a reforma educativa.

maio 02, 2013

Sem mentiras não há oposição ao AO que resista, também em Angola


Segundo o Jornal de Angola, o ministro angolano da educação, Pinda Simão, justificou a não aplicação do AO no novo ano letivo apoiando-se nos seguintes argumentos:
Até o Brasil, que já estava a aplicar o acordo, disse, recuou e Portugal também questiona alguns aspectos do diploma. [...]. [H]á problemas em 20 das 25 bases do AO90″.
Fonte.

Três argumentos contra o AO, três mentiras factuais, zero surpresas.
No que respeita à aplicação do AO, nem o Brasil não recuou, nem Portugal não tem dúvidas.
Quando aos problemas nas 20 das 25 bases, lembramos, sem comentar, que o AO tem apenas 21 bases.

O triplo equívoco de Pinda Simão satisfaz quem vive de mentiras. Já se desceu ao ponto de a direita retrógrada portuguesa ter de se alimentar das migalhas que caem da mesa farta do MPLA


Pós texto: Ainda sobre a não aplicação do AO no sistema educativo de Angola: o testemunho de um professor angolano.

Obrigado !

Em abril o nosso  em Português Grande  teve um novo record de visitas, superando o record do mês anterior.

A generalidade das visitas chegam-nos através dos motores de busca mas ficamos felizes por ver aumentar a proporção de acessos diretos, aqueles que nos chegam de links colocados no facebook, na blogoesfera e em sítios eletrónicos dedicados à nossa Língua.

No caso dos motores de busca, a maioria dos acessos recai sobre as nossas páginas estáticas.

A página mais visitada do blog continua a ser "A Falácia das Consoantes Mudas Diacríticas".

Um dia pode ser que se faça a historia da vida breve deste blog, dos efeitos que teve, que provocou. Mas isso acontecerá apenas quando for o momento de dar a missão por cumprida, algo que está bem mais próximo hoje do que quando começámos.

Uma palavra especial de amizade aos nossos irmãos brasileiros que, quase sempre através de nós, percebem que o AO não é um problema em Portugal, e que os portugueses não são os tacanhos xenófogos que o desacordismo apregoa.

A todos os visitantes, ocasionais ou regulares, obrigado.

abril 18, 2013

A oposição ao AO vista pelos melhores desacordistas

Republico no nosso em Português Grande o post publicado ontem no Aventar.
A republicação tem os links alterados para os posts aqui publicados.



Embora em fase de rescaldo, o tema AO teve entre nós debate aceso. Tal deveu-se, por um lado, ao atavismo da sociedade portuguesa, bem visível na nossa história nos últimos duzentos anos. Por outro lado, nós, portugueses, temos esta propensão para a querela, como as longas discussões em torno do futebol fora das quatro linhas demonstram. Não me revendo eu no primeiro defeito, revejo-me certamente no segundo, pelo que não poderia desperdiçar a oportunidade que me foi oferecida pelo JJCardoso, que agradeço, e publicar algo sobre o tema no Aventar.


Todas – rigorosamente todas – as objeções ao AO90 já foram exaustivamente desmontadas. No entanto, sendo o desacordismo um fenómeno para-religioso, ele impede os crentes de ler fora da vulgata, pelo que tudo se resume a recitar suras desacordistas e outras coisas absurdas. O desacordismo, pela sua natureza, impede o desacordista de ler um único argumento contrário, e assim se explica porque motivo os “debates” sobre o AO promovidos por desacordistas não incluem acordistas. Os desacordistas mais facilmente batem uns nos outros do que debatem com outros.

Então, como podemos nós ultrapassar esta impossibilidade de levar luz à caverna lúgubre do desacordismo? Como vencer esta dificuldade de fazer o desacordista ler fora da sua área de conforto emocional e intelectual? Talvez pedindo ao desacordista para atender apenas à opinião de outro desacordista. É o que farei aqui.


António Emiliano, linguista, professor universitário, mostrou ser o opositor ao AO mais valoroso no debate técnico do tema. Vejamos que ele tem a dizer sobre um dos principais pilares da oposição ao AO, a questão etimológica (extrato da nota 47 do facebook de Emiliano, a 16 de abril 2012):
O problema “técnico” principal desta hedionda Base IV devoradora de letras e brasilificadora do português língua escrita não é etimológico, como clamam alguns desacordistas. […]
A matriz ortográfica greco-latina da língua portuguesa há muito que foi desfigurada por decreto (e cá continuamos, escrevendo português, de forma menos bela e adequada, mas português quand-même): invocar a dita matriz greco-latina é argumento que não vale um caracol na presente controvérsia e só serve para alimentar a imagem negativa que os acordistas gostam de dar a quem lhes faz frente.
Devastador. O citado faz notar que se reserva o direito de mudar de opinião. Mas com ou sem mudança de opinião, com ou sem signatário, filho querido ou enjeitado, este esplêndido trecho ganhou vida própria e sobrevive à vontade ou parecer do genitor, como sempre acontece à obra do operário que se transcendeu. Link.


Vasco Graça Moura, homem da cultura e de letras, foi o mais mediático dos opositores ao AO. No auge da questão, há cerca de um ano, Moura deu uma entrevista ao jornal O Globo. Vejamos o que ele tem a dizer a quem imagina que “A Língua É Nossa” ou que “Existem Duas Línguas Portuguesas”.
O Globo: Muitos opositores do acordo em Portugal dizem que a língua é dos portugueses. O que o senhor acha dessa afirmação? 
VGM: Não tem pés nem cabeça. A língua portuguesa é património de todos que a falam como língua nacional.
Lúcido. Ainda que só por uma vez. Link..


Miguel Tamen, professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, vê as coisas de outra forma. Ainda que Tamen aceite que “o AO desliga o Português da matriz greco-latina”, ao contrário de Emiliano, ou que “a Língua é nossa”, ao contrário de Moura, ele pensa que essas e outras falácias não são objeções fundamentais ao AO; para ele, a essência da questão é outra, como se pode ler numa entrevista ao i:
i: Qual é então essa sua principal objecção?
MT: Eu acho que o acordo é mau porque a ideia de lusofonia é má. Na minha opinião, tudo o que invoque a noção de lusofonia me parece deplorável.
Honesto. Tamen está mais próximo do fulcro da questão, porque o fulcro da questão da aceitação ou rejeição do AO é político; só é ortográfico na medida em que foi, como é, necessário mascarar resistências sociológicas e corporativas envergonhadas, de tão vergonhosas. Link.


Termino com a opinião de outro desacordista, João Ferreira Dias. No trecho que se segue, JFDias faz uma espécie de resumo da matéria e diz o seguinte:
Naturalmente que a nostalgia que habita em mim prefere "actor" a "ator", "acção" a "ação", por exemplo, mas também "Pharmacia" a "Farmácia". Ora, de "Pharmacia" ninguém falava, pelo simples facto de já ter caído em desuso faz tempo. Tal significa - e este ponto é importante - que a grafia portuguesa não se manteve estanque e a forma como os meus pais aprenderam a grafar algumas palavras é diferente daquela que aprendi, trinta e tal anos depois.Portanto, a razão da recusa do acordo ortográfico por parte de inúmeros cidadãos portugueses não deverá residir num apego à originalidade da língua, porque se for essa a razão estamos mal, afinal a grafia pré-acordo é já uma degeneração do português arcaico, por exemplo, porque ou muito me engano ou já ninguém escreve nos seguintes moldes:"Razoões desvairadas, que alguuns fallavam sobre o casamento delRei Dom Fernamdo".
Desta forma, só consigo vislumbrar uma razão simples para que o Acordo Ortográfico seja visto como uma abominação - o facto de ser um acordo com o Brasil. Sendo assim, o problema nada tem a ver com a grafia mas reside antes em recantos da xefonobia e do preconceito, resultantes de processos civilizacionais mal resolvidos.
Brilhante. Suspeito que, por esta altura, a maioria dos desacordistas não tenha estofo psicológico para ler na íntegra o post de onde este trecho foi extraído. Link.


É possível que, para muitos desacordistas esta tenha sido a primeira vez que tomaram conhecimento de opiniões divergentes da vulgata descordista. Se tiver sido assim, este post já valeu a pena, mesmo que não tenha demovido nenhum dos crentes.


PS - backlink no Lusofonias.